segunda-feira, abril 09, 2018

Segunda, 9.
Transcrevo do frontispício do Público de ontem: “Renegociação das PPP deixa pouca poupança e mais obras para o Estado.” Quer dizer, a negociata que vem do tempo de Cavaco Silva (de quem ninguém ainda se ocupou) e percorreu depois o PS de José Sócrates, somos nós que pagamos com impostos injustos, pobreza, má saúde, ensino medíocre e humilhação. Não compreendo a política da direita onde incluo o PS: as empresas públicas que dão lucro, vende-as aos privados ficando com o ónus das despesas de manutenção. Este país tem muito de obscuro para nos revelar. Três dos partidos – PSD/CDS e PS - meto-os no mesmo saco. Foram eles que governam à vez Portugal nestes últimos quarenta anos. Têm um dia de desaparecer para dar lugar a gente mais inteligente, apta, honesta, solta das pressões partidárias e mais amiga da nação e dos portugueses.

         - Fui do Amoreiras a pé até ao Cais do Sodré, com paragem por uns instantes na Brasileira. Pelo caminho, a alturas do Príncipe Real onde vivi décadas, comecei ao pontapé a italianos, franceses, espanhóis que fui encontrando até ao Chiado. Que ralé bizarra! Barulhentos, maltrapilhos, ocupando as ruas e os passeios como se estivessem no pátio das suas casas, gozando os espaços com a displicência de quem se crê senhor de tudo, admirando os horrores de bugigangas que não servem para nada e proliferam por todo o lado, ou talvez tenham utilidade numa qualquer divisão dos seus apartamentos já cheios da merdelhice que a sociedade de consumo sabe impor-lhes. Todo este “progresso” é de tal modo balofo, tão pouco sustentável, que se esvai com uma simples bomba de carnaval com assinatura do Daesh. Hotéis (às centenas por todo o lado), Hostels (como sarna a coçar paredes carcomidas), restaurantes, tascas e tasquinhas (a abarrotar de gentinha moçoila de triste aspecto), toda esta paisagem de desenvolvimento, serve tanto o turismo, mas sobretudo o Governo. A desconsolada imagem da capital, com uma multidão a arrastar os pés pela calçada, é um sintoma da decadência que os governantes não são capazes de compreender. O dinheiro tapa todos os buracos mas, simultaneamente, abre crateras. Estas vão ser a pobreza dos gananciosos.


         - Desci depois com o João Corregedor ao Cais do Sodré. Fomos ao encontro do Paulo Santos e da mulher para um almoço juntos. Abancámos no Hennessys, um simpático restaurante-bar, todo em madeira, com pessoal agradável e comida a condizer. Risada, conversa cruzada, sem o ruído do Príncipe nem o álcool dos artistas saídos do século XIX parisiense. Dali rumámos a Buraca onde o António Segurado abriu o seu atelier e trabalhou os nossos retratos para uma grande exposição. Mas disso falarei noutra altura.
Bacalhau com batata delicioso