Segunda, 9.
Transcrevo do frontispício do Público de
ontem: “Renegociação das PPP deixa pouca poupança e mais obras para o Estado.”
Quer dizer, a negociata que vem do tempo de Cavaco Silva (de quem ninguém ainda
se ocupou) e percorreu depois o PS de José Sócrates, somos nós que pagamos com
impostos injustos, pobreza, má saúde, ensino medíocre e humilhação. Não
compreendo a política da direita onde incluo o PS: as empresas públicas que dão
lucro, vende-as aos privados ficando com o ónus das despesas de manutenção. Este
país tem muito de obscuro para nos revelar. Três dos partidos – PSD/CDS e PS - meto-os
no mesmo saco. Foram eles que governam à vez Portugal nestes últimos quarenta
anos. Têm um dia de desaparecer para dar lugar a gente mais inteligente, apta, honesta,
solta das pressões partidárias e mais amiga da nação e dos portugueses.
- Fui do Amoreiras a pé até ao Cais do Sodré, com paragem por uns
instantes na Brasileira. Pelo caminho, a alturas do Príncipe Real onde vivi
décadas, comecei ao pontapé a italianos, franceses, espanhóis que fui
encontrando até ao Chiado. Que ralé bizarra! Barulhentos, maltrapilhos,
ocupando as ruas e os passeios como se estivessem no pátio das suas casas,
gozando os espaços com a displicência de quem se crê senhor de tudo, admirando
os horrores de bugigangas que não servem para nada e proliferam por todo o lado,
ou talvez tenham utilidade numa qualquer divisão dos seus apartamentos já
cheios da merdelhice que a sociedade de consumo sabe impor-lhes. Todo este
“progresso” é de tal modo balofo, tão pouco sustentável, que se esvai com uma
simples bomba de carnaval com assinatura do Daesh. Hotéis (às centenas por todo
o lado), Hostels (como sarna a coçar paredes carcomidas), restaurantes, tascas
e tasquinhas (a abarrotar de gentinha moçoila de triste aspecto), toda esta
paisagem de desenvolvimento, serve tanto o turismo, mas sobretudo o Governo. A desconsolada
imagem da capital, com uma multidão a arrastar os pés pela calçada, é um
sintoma da decadência que os governantes não são capazes de compreender. O
dinheiro tapa todos os buracos mas, simultaneamente, abre crateras. Estas vão
ser a pobreza dos gananciosos.
- Desci depois com o João Corregedor ao Cais do Sodré. Fomos ao encontro
do Paulo Santos e da mulher para um almoço juntos. Abancámos no Hennessys, um
simpático restaurante-bar, todo em madeira, com pessoal agradável e comida a
condizer. Risada, conversa cruzada, sem o ruído do Príncipe nem o álcool dos
artistas saídos do século XIX parisiense. Dali rumámos a Buraca onde o
António Segurado abriu o seu atelier e trabalhou os nossos retratos para uma
grande exposição. Mas disso falarei noutra altura.
Bacalhau com batata delicioso |