Sexta,
14.
Outro
dia no almoço com os meus amigos, eles contaram-me a ida a Viena na carrinha da
Fundação Gulbenkian, conduzida pelo Guilherme até à capital austríaca. Aí
chegados instaram-se em casa do maestro Vitorino de Almeida que na altura era
adido cultural. Ao Virgílio coube-lhe um colchão debaixo de uma mesa, o
Guilherme escapou-se para um hotel e o outro colega artista que os acompanhava,
uma cama mais ou menos. As peripécias foram inúmeras, todas empurradas pela
personalidade de músico. Carlos Paredes também fazia parte da embaixada e
diz-me Virgílio que ele era impecável de profissionalismo, chegando a recusar
as borgas para ficar em casa a ensaiar. Aconteceu, inclusive, que na sala de
espectáculos ele, antes de entrar em cena, refugiava-se nos wc com a sua
guitarra a praticar os derradeiros acordes. Uma rapariga que só falava alemão,
fascinada com as esculturas de Vergílio, apaixonou-se por ele. Começou por
querer saber como atingia ele aquela beleza que a fascinava e, de emoção em
emoção, acabaram na única cama vaga que era a do outro colega. Quando este
chega a casa noite alta, encontrou-os entre lençóis. O pobre do escultor, pouco
depois de regressar a Portugal, começou a sentir dores e a ver furúnculos na
zona genital – o médico diagnosticou-lhe uma blenorragia. “Vê lá tu a tipa pregou-me
um esquentamento!”, lamentava-se o meu amigo como se ainda estivesse, vinte
anos volvidos, sob o efeito da loucura sexual.
- A nossa amantíssima UE, onde todos
ralham e ninguém tem razão, afunda-se de dia para dia. A Alemanha, pioneira da
bíblia económica e do sofrimento e humilhação dos seus súbditos periféricos,
perde 1,5 do PIB e vê o seu banco principal falido. Aliás, arruinada está toda
a Europa do euro e das fantasias solidárias. O que lhe resta, é ir desmembrando-se
aos poucos, comida pelo salve-quem-puder e pela miséria humana e moral,
arrastando consigo os infelizes que em nada contribuíram para sua construção,
uma vez que ninguém lhes perguntou se para tanto estavam interessados em lhe
pertencer.
- Antes de deixar Lisboa, tinha
cumprido cabalmente o meu programa sem abdicar de saborear a piscina em
braçadas enérgicas. Na véspera, ao adormecer a água, desejei-lhe um longo e
silente sono até a Primavera do próximo ano. Que eu espero saborear com o mesmo
contentamento deste 2016, que foi a todos os títulos e desse ponto de vista
maravilhoso. Ajudou a curar muitas mágoas e alimentou os meus dias de
esperança. Por acréscimo, ainda consegui queimar dois montes de ramos de
palmeiras, folhagem e escalracho.