sexta-feira, outubro 14, 2016

Sexta, 14.
Outro dia no almoço com os meus amigos, eles contaram-me a ida a Viena na carrinha da Fundação Gulbenkian, conduzida pelo Guilherme até à capital austríaca. Aí chegados instaram-se em casa do maestro Vitorino de Almeida que na altura era adido cultural. Ao Virgílio coube-lhe um colchão debaixo de uma mesa, o Guilherme escapou-se para um hotel e o outro colega artista que os acompanhava, uma cama mais ou menos. As peripécias foram inúmeras, todas empurradas pela personalidade de músico. Carlos Paredes também fazia parte da embaixada e diz-me Virgílio que ele era impecável de profissionalismo, chegando a recusar as borgas para ficar em casa a ensaiar. Aconteceu, inclusive, que na sala de espectáculos ele, antes de entrar em cena, refugiava-se nos wc com a sua guitarra a praticar os derradeiros acordes. Uma rapariga que só falava alemão, fascinada com as esculturas de Vergílio, apaixonou-se por ele. Começou por querer saber como atingia ele aquela beleza que a fascinava e, de emoção em emoção, acabaram na única cama vaga que era a do outro colega. Quando este chega a casa noite alta, encontrou-os entre lençóis. O pobre do escultor, pouco depois de regressar a Portugal, começou a sentir dores e a ver furúnculos na zona genital – o médico diagnosticou-lhe uma blenorragia. “Vê lá tu a tipa pregou-me um esquentamento!”, lamentava-se o meu amigo como se ainda estivesse, vinte anos volvidos, sob o efeito da loucura sexual.

         - A nossa amantíssima UE, onde todos ralham e ninguém tem razão, afunda-se de dia para dia. A Alemanha, pioneira da bíblia económica e do sofrimento e humilhação dos seus súbditos periféricos, perde 1,5 do PIB e vê o seu banco principal falido. Aliás, arruinada está toda a Europa do euro e das fantasias solidárias. O que lhe resta, é ir desmembrando-se aos poucos, comida pelo salve-quem-puder e pela miséria humana e moral, arrastando consigo os infelizes que em nada contribuíram para sua construção, uma vez que ninguém lhes perguntou se para tanto estavam interessados em lhe pertencer.


         - Antes de deixar Lisboa, tinha cumprido cabalmente o meu programa sem abdicar de saborear a piscina em braçadas enérgicas. Na véspera, ao adormecer a água, desejei-lhe um longo e silente sono até a Primavera do próximo ano. Que eu espero saborear com o mesmo contentamento deste 2016, que foi a todos os títulos e desse ponto de vista maravilhoso. Ajudou a curar muitas mágoas e alimentou os meus dias de esperança. Por acréscimo, ainda consegui queimar dois montes de ramos de palmeiras, folhagem e escalracho.