quinta-feira, outubro 20, 2016


Quinta, 20.
Cheguei há dez minutos a Cambrai e já me encontro no Signe o café que descobri o ano passado. Estou sentado no lugar “Place de L´amour” e tenho na frente, a discutir encostados ao balcão, os mesmos homens gorduchos bebendo um Ricard. Ansiava por vir visitar este lugar travado no tempo, esta atmosfera de homens simples a discutir coisas risonhas que não servem para coisa nenhuma, mas são a substância mesma da vida. Esta que corre nesta pequena cidade de província, católica apostólica romana, plantada à sombra da sua catedral, serpenteada de edifícios baixos que traduzem como epigramas os sofrimentos e as loucuras humanas. Faz frio. A porta não pára quieta porque há sempre alguém que entra e mergulha na conversa como se participasse dela desde o início. Raros são os que abancam como eu às mesas de ferro e tampo manhoso, encimadas de ditos cómicos que devem ter sido criados pelo filho do dono do estabelecimento, um rapaz de sorriso de orelha a orelha, smartphone lustroso e auricular como convém a esta geração de parlapatões natos, que detestam o silêncio e são em si mesmos a expressão do vazio que se instalou no mundo.  Vou-me quedar por aqui toda a manhã até que Robert me venha buscar para irmos almoçar a uma povoação dos arredores onde parece haver um restaurante à maneira. Esqueçam-me por instantes. Vou atascar-me destas vozes agudas e graves, destes corpos desnormalizados que se escondem sob roupas cheias de palavras obscenas ou ditos engraçados, em inglês como é de norma. Noto que não há televisão. Ufa! O que ouço é a voz da locutora de serviço provavelmente numa estação de rádio local a falar sozinha, porque nenhum dos presentes lhe liga peva em calorosa conversa sobre temas que não ouso decifrar. Lá fora, uma chuva tristonha bate suavemente nos vidros da montra larga. Vou estender o corpo na cadeira e respirar o ar poluído das vozes que circulam. Vou ficar e partir. Vou ausentar-me colado à atmosfera desordenada dos que a pinga transviou em deuses suspensos de recordações bêbadas de felicidade... Chamo ao convívio, se me permitem, Monsieur Oscar Wilde: Les folies sont les seules choses qu´ont ne regrette jamais.


         - Leio no Público online que os socialistas continuam iguais a si mesmos. Com a desvergonha que se lhes conhece, pretendem dar a ganhar aos amigalhaços que são “cérebros ultra inteligentes e competentes”, qualquer coisa como 435 mil euros ano para gerir a CGD falida como falidos estão a maioria dos bancos! Tudo porque a inveja os cega e não querem que os seus quadros “distintamente qualificados” sejam humilhados com remunerações inferiores ao que a Banca paga no privado, onde um guru chega a auferir 568 mil euros brutos! Toda esta falange com-pe-ten-tí-ssi-ma não evitou que os negócios derrapassem, que a Banca entrasse em convulsão, que milhares e milhares de pequenos accionistas fossem à falência, que o Estado (os contribuintes) pagasse as loucuras e as negociatas, os ordenados criminosos, as mordomias e tudo o que não saberemos nunca. Ter um banco hoje, é como ganhar o euromilhões várias vezes seguidas e tão seguro como antigamente se dizia da Companhia de Diamantes de Angola. Com uma ligeira minudência: aquela que todos juravam tão sólida como o Estado português já não existe. O que é mais estranho, é que a Esquerda que sustém António Costa, lute para aprovar um aumento de 10 euros nas reformas miseráveis, e nada faça para travar esta afronta à indigência em que vive 70 por cento dos portugueses. Os bancos nunca caem porque nós os amparamos com impostos cada vez mais suicidários, mas eles, os bravos gestores assim como todo o bando de políticos que nos apascenta, nunca vão à falência. Uns e outros exibem orgulhosamente um fausto de vida que a falange fascista do salazarismo nunca ousou ostentar. Bem sei vivemos em democracia. As experiências governativas estão a esgotar-se. Tenhamos esperança!