Quinta,
20.
Cheguei
há dez minutos a Cambrai e já me encontro no Signe o café que descobri o ano
passado. Estou sentado no lugar “Place de L´amour” e tenho na frente, a
discutir encostados ao balcão, os mesmos homens gorduchos bebendo um Ricard.
Ansiava por vir visitar este lugar travado no tempo, esta atmosfera de homens
simples a discutir coisas risonhas que não servem para coisa nenhuma, mas são a
substância mesma da vida. Esta que corre nesta pequena cidade de província,
católica apostólica romana, plantada à sombra da sua catedral, serpenteada de
edifícios baixos que traduzem como epigramas os sofrimentos e as loucuras
humanas. Faz frio. A porta não pára quieta porque há sempre alguém que entra e
mergulha na conversa como se participasse dela desde o início. Raros são os que
abancam como eu às mesas de ferro e tampo manhoso, encimadas de ditos cómicos
que devem ter sido criados pelo filho do dono do estabelecimento, um rapaz de
sorriso de orelha a orelha, smartphone lustroso e auricular como convém a esta
geração de parlapatões natos, que detestam o silêncio e são em si mesmos a
expressão do vazio que se instalou no mundo. Vou-me quedar por aqui toda a manhã até que
Robert me venha buscar para irmos almoçar a uma povoação dos arredores onde
parece haver um restaurante à maneira. Esqueçam-me por instantes. Vou atascar-me
destas vozes agudas e graves, destes corpos desnormalizados que se escondem sob
roupas cheias de palavras obscenas ou ditos engraçados, em inglês como é de
norma. Noto que não há televisão. Ufa! O que ouço é a voz da locutora de
serviço provavelmente numa estação de rádio local a falar sozinha, porque
nenhum dos presentes lhe liga peva em calorosa conversa sobre temas que não
ouso decifrar. Lá fora, uma chuva tristonha bate suavemente nos vidros da
montra larga. Vou estender o corpo na cadeira e respirar o ar poluído das vozes
que circulam. Vou ficar e partir. Vou ausentar-me colado à atmosfera
desordenada dos que a pinga transviou em deuses suspensos de recordações
bêbadas de felicidade... Chamo ao convívio, se me permitem, Monsieur Oscar
Wilde: Les folies sont les seules choses
qu´ont ne regrette jamais.
- Leio no Público online que os socialistas continuam iguais a si mesmos. Com a
desvergonha que se lhes conhece, pretendem dar a ganhar aos amigalhaços que são
“cérebros ultra inteligentes e competentes”, qualquer coisa como 435 mil euros
ano para gerir a CGD falida como falidos estão a maioria dos bancos! Tudo
porque a inveja os cega e não querem que os seus quadros “distintamente
qualificados” sejam humilhados com remunerações inferiores ao que a Banca paga
no privado, onde um guru chega a auferir 568 mil euros brutos! Toda esta
falange com-pe-ten-tí-ssi-ma não evitou que os negócios derrapassem, que a
Banca entrasse em convulsão, que milhares e milhares de pequenos accionistas
fossem à falência, que o Estado (os contribuintes) pagasse as loucuras e as
negociatas, os ordenados criminosos, as mordomias e tudo o que não saberemos
nunca. Ter um banco hoje, é como ganhar o euromilhões várias vezes seguidas e
tão seguro como antigamente se dizia da Companhia de Diamantes de Angola. Com uma
ligeira minudência: aquela que todos juravam tão sólida como o Estado português
já não existe. O que é mais estranho, é que a Esquerda que sustém António
Costa, lute para aprovar um aumento de 10 euros nas reformas miseráveis, e nada
faça para travar esta afronta à indigência em que vive 70 por cento dos
portugueses. Os bancos nunca caem porque nós os amparamos com impostos cada vez
mais suicidários, mas eles, os bravos gestores assim como todo o bando de
políticos que nos apascenta, nunca vão à falência. Uns e outros exibem
orgulhosamente um fausto de vida que a falange fascista do salazarismo nunca
ousou ostentar. Bem sei vivemos em democracia. As experiências governativas
estão a esgotar-se. Tenhamos esperança!