Segunda,
17.
Ontem
à noite fomos ver a peça Le Suicidé (Der Selbstmorder) do dramaturgo
russo Nicolai Erdman (1902-1970),
representada pela companhia alemã Berliner Ensemble, gémea da Comédie Française.
Traduzida do russo, representada na língua de Goethe, legendada em francês e
levada à cena no teatro Gerard Philipe à cunha, não cabendo uma mosca mais,
numa demonstração do interesse dos franceses pelo teatro. A peça dura para cima
de duas horas (sem intervalo) e, devo confessar, o início arrasou-me pela
constante atenção em ler a tradução que passava no toutiço do proscénio e o que
se passava sobre as tábuas. Ainda por cima, quer os diálogos dos actores, quer
a legendagem passavam a alta velocidade, pelo que me pareceu muito difícil a
quem não soubesse o alemão, acompanhar os dois planos da representação. Apesar
disso, a encenação de Jean Bellorini é sublime, as representações –
particularmente a de Georgios Tsivanoglou em Sémione Semionovitch – magistrais.
A companhia fundada por Bertolt Brecht, trouxe à cena doze actores de primeira
água, que cumpriram com arte e saber a peça do infeliz autor marginalizado por
Estaline por ser “politicamente falso e extremamente reaccionário”.
Ostracizado, Erdman, viu-se obrigado a deixar Moscovo, em 1924, para regressar
aos palcos e ao seu público e ver a sua peça publicada em 1987 quando da
celebração da Perestroika de Gorbatchov. A obra espelha isso mesmo, com humor,
numa construção trágico-cómica, com belos cantos russos à mistura, surrealismo,
ritmo, loucura, desespero e absurdidade. Aliás quem melhor definiu a peça, foi
o inteligente encenador: a comédia é “la tragédie qui se déguise”.
Giorgius Tsivanoglou em Sémione Semionovitch |