sexta-feira, outubro 28, 2016

Sexta, 28.
O Pesadelo dos Dias Felizes sintetiza maravilhosamente a história de Peter de Santa Clara. Depois de se separar da mulher, no intervalo da chegada de Matmatu, ele sente-se perdido, desmotivado, sob forte depressão que lhe tolhe os movimentos, levando-o a pensar na morte. Até o dia em que conhece o amor e mais tarde a sua perda. Desorientado, barrica-se no centro comercial semanas a fio na desesperante expectativa de ver aparecer aquele que desapareceu sem deixar rasto, deixando para trás o hospital, a cidade grande, o quotidiano confortável. O pesadelo dessa expectativa é sentido na recordação dos dias que ambos viveram rendidos à felicidade e à alegria da vida partilhada. O resto o leitor conhecerá no fim de trezentas páginas que me reduziram a um farrapo pela energia nelas posta, pela concentração, o desgaste de dois anos de trabalho frenético e diário.

         - A linha 13 do metro é a mesma de Julien Green, de Jean Chalon, de André Gide e deste que assina estas linhas e ainda de uma multidão de africanos que labuta diariamente e a utiliza para chegar a casa, abatidos pelo desgaste do trabalho mal pago que mal chega para o que comem.

         - Fico-me por aqui hoje. Estou com o pé no estribo para deixar Paris a caminho de Strasbourg. O Lionel espera-me para jantar e eu tenho ainda tanta coisa a organizar. Tempo moche.


         - Acabo de receber a tristíssima notícia da morte do Jaime Fernandes. Fomos amigos anos a fio, trabalhámos juntos, encontrávamo-nos de vez em quando para almoçar e não tem muito tempo que estivemos em Setúbal. Devo-lhe muito e não o esqueço facilmente. Era um gentlemann, uma pessoa doce no trato, culto na latitude da informação, sobretudo a rádio onde deixou a sua marca. Era também um homem secreto, de falas poucas e sorriso tímido. Que Deus o tenha e a nós não nos esqueça nunca o amigo.