Sexta, 28.
O
Pesadelo dos Dias Felizes
sintetiza maravilhosamente a história de Peter de Santa Clara. Depois de se
separar da mulher, no intervalo da chegada de Matmatu, ele sente-se perdido,
desmotivado, sob forte depressão que lhe tolhe os movimentos, levando-o a
pensar na morte. Até o dia em que conhece o amor e mais tarde a sua perda.
Desorientado, barrica-se no centro comercial semanas a fio na desesperante
expectativa de ver aparecer aquele que desapareceu sem deixar rasto, deixando
para trás o hospital, a cidade grande, o quotidiano confortável. O pesadelo
dessa expectativa é sentido na recordação dos dias que ambos viveram rendidos à
felicidade e à alegria da vida partilhada. O resto o leitor conhecerá no fim de
trezentas páginas que me reduziram a um farrapo pela energia nelas posta, pela
concentração, o desgaste de dois anos de trabalho frenético e diário.
- A linha 13 do metro é a mesma de Julien Green, de Jean Chalon, de
André Gide e deste que assina estas linhas e ainda de uma multidão de africanos
que labuta diariamente e a utiliza para chegar a casa, abatidos pelo
desgaste do trabalho mal pago que mal chega para o que comem.
- Fico-me por aqui hoje. Estou com o pé no estribo para deixar Paris a
caminho de Strasbourg. O Lionel espera-me para jantar e eu tenho ainda tanta
coisa a organizar. Tempo moche.
- Acabo de receber a tristíssima notícia da morte do Jaime Fernandes. Fomos
amigos anos a fio, trabalhámos juntos, encontrávamo-nos de vez em quando para almoçar e não tem
muito tempo que estivemos em Setúbal. Devo-lhe muito e não o esqueço
facilmente. Era um gentlemann, uma pessoa doce no trato, culto na latitude da informação,
sobretudo a rádio onde deixou a sua marca. Era também um homem secreto, de
falas poucas e sorriso tímido. Que Deus o tenha e a nós não nos esqueça nunca o
amigo.