Sexta, 21.
Sou cada vez mais sensível à luta que
mulheres e homens travaram antes de nós pela liberdade propagada a todos os
momentos da condição humana. Estou a terminar a correspondência entre Stefan
Zwieg e Klaus Mann e vergo-me ante a clarividência do filho de Thomas Mann que
desde muito cedo vislumbrou a catástrofe que iria ser o nazismo. A luta de
homens assim, muitos pagaram com a morte, a deportação, a miséria e a fome, é
para mim o alerta para os dias de hoje. Klaus optou muito cedo pelo confronto
ideológico e pessoal; Stefan, mais romântico, escolheu a via da arte como
expressão alheada das disputas partidárias que hoje chamaríamos soft. Quem teve razão, foi Klaus Mann
como nos diz a história e a sua obra demonstra. Ambos, curiosamente, escolheram
o suicídio. O primeiro, em 1949, em Canes; o segundo, em 1942, no Brasil. Nenhum
deles suportou o desaparecimento de uma certa concepção de vida e acreditou que
com Hitler a Europa do espírito e do humanismo iria entrar nas sombras eternas.
É também por isso que eu, modestamente, combato os falsos socialismos, os
arrogantes defensores da pátria, os corruptos que se aliam àqueles que vêem no
capital o destino auspicioso, a manápula capitalista sobre o mundo na forma
democrática que esconde a subjugação aos valores que exprimem na globalização a
barbárie, e reduzem o homem a mero instrumento da sociedade de consumo. Nunca a
Cultura foi tão necessária como neste tempo que nos coube. Pela simples e cristalina
razão: há titãs encarregados de a suprimir, porque através dela o homem é mais lúcido,
mais capaz de enxergar o que sub-repticiamente lhe querem impor.