Quarta, 12.
Foram de facto tristes as cenas de
agressão por parte de alguns taxistas ao carro do infeliz da Uber apanhado na
enxurrada dos protestos. No seguimento, um dos motoristas foi presente ao juiz
e arrisca uma condenação. Contudo, quem devia estar sentado no banco dos réus
era Passos Coelho e António Costa porque deixaram alastrar e instalar uma
organização potente, a operar contra as leis do país, que à revelia dessa
cumplicidade governamental, foi ocupando o espaço em concorrência desleal.
Agora aqueles que nos governam, clamam pelo direito à concorrência e ao livre
exercício das actividades económicas, esquecendo-se que para tal aconteça é
preciso que todos tenham as mesmas armas. As imagens que eu vi e as palavras
que escutei, dizem-me que o Governo quer impor pela força uma empresa que vai
contra as suas próprias leis e princípios. A máquina de triturar os cérebros
está em marcha. Vão-nos repetir à exaustão que o emprego seguro é em breve uma
relíquia do passado. As loas vão para os empresários em nome individual, para
os recibos verdes, para a transumância de trabalhadores, para os independentes.
- Soubemos que José Sócrates teve mais uma derrota. A Relação de Lisboa
decidiu manter o juiz Carlos Alexandre na condução dos processos que envolvem o
ex-primeiro-ministro. As palavras proferidas pelo magistrado, não apresentam
nada daquilo que Sócrates, ressabiado, viu. O homem tem de mudar de narrativa.
- O tempo voltou costas, enfim, ao verão. As primeiras chuvas caíram, um
frio insidioso instalou-se, o cheiro a inverno espalha-se no ar, as árvores
exibem um enfeite tristonho. Em breve tudo hiberna.
- Jornada movimentada em Lisboa. Comecei por me encontrar pelas dez
horas com a Conceição no Martinho da Arcada para um café e dois dedos de
conversa. De seguida subi o Chiado e fui ao encontro dos amigos na Brasileira,
com dois deles (Guilherme e Virgílio) acabei almoçando num restaurante da Rua
das Flores onde se come muito bem. Larguei o Guilherme e voltei à Brasileira
com o Virgílio e depois vagueei pela Baixa para duas ou três compras, ida ao Banco,
a uma pastelaria. Mais tarde, no Corte Inglês, comprei a Bíblia na tradução de
Frederico Lourenço. De regresso a casa por caminhos cobertos de charcos de água,
leve sensação invernal, um pressentimento travado de nostalgia a inundar-me o coração.