Sexta, 2 de Setembro.
Almocei no Príncipe com a trupe do
costume. Estes almoços são normalmente muito barulhentos não só porque alguns
bebem de mais, como todos os clientes parecem ser surdos. Ali não se pode
conversar, discutir certos assuntos, ter um encontro calmo (é por estas razões
que o João Corregedor se recusa a lá ir). Dois actores de telenovelas aparecem.
Logo que os vi entrar e um deles se sentou na minha frente, disse: “Então estás
vivo?” Ele muito admirado: “Então não estou! – Não tem uma semana que te vi
morrer na novela da SIC de ataque cardíaco!” Gargalhada geral. Então ele
explicou-me que detesta telenovelas, mas tem de trabalhar e fazer pela vida
porque as despesas são fixas e eles (referia-se à televisão) pagam bem. Bom. A
nossa mesa é uma série de outras pegadas, situada a meio da sala onde está uma moldura
dourada com os nomes gravados de todos eles e mais os que já desapareceram pregada
na parede. Disse ao Carlos: “Essa placa qualquer dia transforma-se numa laje
funerária” e ele rápido no timbre efervescente da amizade na voz: “Vira para lá
essa boca!”
- Estou a ler (entre outros livros) o romance de Williams Burroughs Cidades da Noite Vermelha. Que delírio!
Que impetuosidade linguística! Que arrojo argumentativo! E – vamos lá – que
pouca vergonha! Se quisesse sintetizar a obra, diria que o universo do autor é
um inferno de onde saímos purificados.
- Novo ataque terrorista no Paquistão fez 12 mortos e 30 feridos. O alvo
foi um tribunal embora não se perceba o que está subjacente ao atentado. A vida
humana é hoje uma coisa qualquer sem utilidade nem valor.
- Em França perfilam-se às Primárias dois ambiciosos de primeira água:
Alain Juppé e Emmanuel Macron. Entre um e outro, venha o diabo e escolha.
- Voltou o calor. 38 graus aqui. Salva-se a banhada ao fim do dia. Mesmo
quando vou a Lisboa, venho a correr para os meus clássicos 500 metros de
natação. Este ano tenho gozado em pleno o tanque.