sexta-feira, setembro 02, 2016

Sexta, 2 de Setembro. 
Almocei no Príncipe com a trupe do costume. Estes almoços são normalmente muito barulhentos não só porque alguns bebem de mais, como todos os clientes parecem ser surdos. Ali não se pode conversar, discutir certos assuntos, ter um encontro calmo (é por estas razões que o João Corregedor se recusa a lá ir). Dois actores de telenovelas aparecem. Logo que os vi entrar e um deles se sentou na minha frente, disse: “Então estás vivo?” Ele muito admirado: “Então não estou! – Não tem uma semana que te vi morrer na novela da SIC de ataque cardíaco!” Gargalhada geral. Então ele explicou-me que detesta telenovelas, mas tem de trabalhar e fazer pela vida porque as despesas são fixas e eles (referia-se à televisão) pagam bem. Bom. A nossa mesa é uma série de outras pegadas, situada a meio da sala onde está uma moldura dourada com os nomes gravados de todos eles e mais os que já desapareceram pregada na parede. Disse ao Carlos: “Essa placa qualquer dia transforma-se numa laje funerária” e ele rápido no timbre efervescente da amizade na voz: “Vira para lá essa boca!”

         - Estou a ler (entre outros livros) o romance de Williams Burroughs Cidades da Noite Vermelha. Que delírio! Que impetuosidade linguística! Que arrojo argumentativo! E – vamos lá – que pouca vergonha! Se quisesse sintetizar a obra, diria que o universo do autor é um inferno de onde saímos purificados.

         - Novo ataque terrorista no Paquistão fez 12 mortos e 30 feridos. O alvo foi um tribunal embora não se perceba o que está subjacente ao atentado. A vida humana é hoje uma coisa qualquer sem utilidade nem valor.  

         - Em França perfilam-se às Primárias dois ambiciosos de primeira água: Alain Juppé e Emmanuel Macron. Entre um e outro, venha o diabo e escolha.


         - Voltou o calor. 38 graus aqui. Salva-se a banhada ao fim do dia. Mesmo quando vou a Lisboa, venho a correr para os meus clássicos 500 metros de natação. Este ano tenho gozado em pleno o tanque.