Terça, 13.

O ministro das Finanças diz que tudo fará para não haver novo resgate a Portugal. O simples facto de ele afirmar o que afirmou, deixa-me inquieto. Significa que as certezas e os entusiasmos iniciais se desvanecem e a economia vai entrar em derrapagem. Não quer dizer que grosso modo as medidas até aqui implementadas não tenham sido correctas e mesmo indispensáveis. Mas não se faz omeletas sem ovos. Não se pode distribuir o que não se tem. Se o país não cria riqueza... O método facílimo de ir ao bolso do contribuinte, também não traz prosperidade. Pelo contrário, vai afundar ainda mais os cidadãos, isto é, o país. Nesta fragilidade que nenhum governo conseguiu resolver, reside a nossa pobreza e condição. Eu sou dos que torço para que se consiga provar que a austeridade não é uma inevitabilidade e há diversas maneiras de fazer economia sem estar sob a pata da folha Exel de Bruxelas. Mas parece que não temos outro remédio. Agora a galinha dos ovos d´ouro é o IMI. Descobriram a magia de carregar sobre aqueles que possuem casa própria num país onde é mais barato pagar a vida inteira ao banco o imóvel, que alugar uma qualquer barraca com o pomposo nome de casa. Isto num Governo dito socialista e... com dois outros partidos de esquerda. Por isso não me espanta que a Câmara de Palmela, comunista de longa data, tenha sido a que mais aumentou o IMI por estas bandas.

         - O telemóvel do Guilherme andou ontem de mão em mão porque vários dos artistas da Brasileira, estando a almoçar no Príncipe, quiseram falar comigo. Tudo a propósito do texto que escrevi sobre Virgílio Domingues. Carlos Soares insistiu para que escrevesse algo sobre ele. Disse-lhe: “Textos por encomenda custam caro.” E ele: “Olha, eu não tenho dinheiro, mas pago-te com um anel de marfim.”

         - E se déssemos um salto ao Brasil onde a vida é sempre muito animada. O deputado Eduardo Cunha, grande arauto da destituição de Dilma Rousseff, acaba de ser posto na rua do Parlamento pelos seus colegas deputados. Está acusado de possuir contas bancárias na Suíça que vieram da lavagem de dinheiro e da corrupção que atinge toda a classe política. Esperemos pelo próximo episódio. Aquilo é um grupo largo de mafiosos que se derrubam uns aos outros. Lá como por todo o lado. Somos governados por gatunos e se aparece algum honesto, vai preso, é acusado de “saloio”, fazem-lhe a vida num inferno.

         - Hoje, por causa da chuva que enfim caiu do céu, pude ficar no ron-ron até às sete e meia. Que delícia! Há meses que ando sacrificado por regas, mangueiras, repuxos e assim. Como durmo toda a santa noite, só a escutei tombar de manhã. Enrosquei-me nos lençóis e fiquei extasiado a ouvi-la bater na janela, chamando o Outono dos remotos confins das galáxias murmurantes. O quarto e a casa inteira, acoitaram-se num aconchego feliz. Ao dejejum, na cozinha onde o Cargaleiro gosta de ficar a conversar, senti um arrepio de felicidade descendo por mim abaixo até não existir nada do pobre solitário, o espaço alagado do silêncio que as gotas de água contra o telhado baixo transformaram em uma sinfonia de Vivaldi. Ontem ainda fiz 500 metros de natação, hoje repeti a dose.