segunda-feira, setembro 26, 2016

Segunda, 26.
E o mundo esse avatar desventurado há tanto tempo arredio destas páginas que se aproxime com sua monstruosidade habitual onde navega a mortificação, o sofrimento e a morte. O escritor cristão jordano Nahed Hattar, foi abatido a tiro à entrada do tribunal onde estava a ser julgado por publicar uma caricatura tida por ofensiva para o Islão. Nos Estados Unidos, uma vaga de tiroteio causou a morte a várias pessoas. Negros na sua maioria. A polícia foi a primeira a disparar contra um homem indefeso, seguiram-se manifestações e prisões, até que anteontem um rapaz de dezoito anos entrou num centro comercial a atirou a matar. No chão ficaram quatro homens e uma mulher. Obama vai deixar a presidência sem conseguir legislar sobre as armas que se vendem como pão quente em todo o país. É nessa circunstância que radica todo o problema.

         - Na cidade mártir de Aleppo os bombardeamentos são de uma agressividade inumana. As poucas pessoas que restam, vivem no fogo cruzado de muitas ambições e alucinações criminosas. Ali parece que se afrontam russos e americanos e não aquela miscelânea de povos e seitas que há anos enfrenta o senhor todo poderoso que herdou um país como se herda um quintal e uma cabana. Ali também os bárbaros do Daesh rivalizam de poder e ambição, considerando que o califado pode vir a ter a sua expansão a partir de um campo de nada semeado de mortos. A guerra dura há quatro anos e nem a ONU ou outra qualquer instituição ou nação, consegue travar um conflito sangrento que nos estupefica e tolhe de impotência.  

         - Eis um diálogo que travei, ao telefone, com um sujeito acelerado da Vodafone:

         - Estou a telefonar-lhe para lhe oferecer um mês de conversação gratuita.
         - Como assim se no mundo de hoje ninguém dá nada a ninguém!
         - Dou-lhe eu porque pelo seu número vejo que é nosso cliente há muitos anos. Olhe, ofereço-lhe dois meses para falar sem restrições.
         - Deixe-se disso e vá aos finalmentes.
         - Depois fazemos um contrato que o vai satisfazer.
         - Olhe, eu sou o mais possível contra o consumo selvagem e não gosto de falar por falar.
         - Ok. Bom dia – rematou, lesto, desligando a chamada.

         - Ando a procrastinar em tudo. Cheguei ao fim deste verão estafado. Só a escrita me delicia e absorve a existência e já agora também as leituras. Em tudo o mais “deslico” como diz Madame Juju. Contudo, devia falar sobre o sonho que me fez saltar da cama esta noite, mas faltam-me as palavras, doem-me os dedos, sinto o coração apertado de angústias, cedo à tentação de ficar a olhar a tarde branda, a folhagem das árvores a murmurar segredos que não contam a ninguém.


         - Título (ainda provisório) do romance: A Consagração do Amor. A ver se ninguém mo rouba como fizeram com os O Vazadouro dos Deuses e A Oratória dos Inocentes.