Quinta, 8
A Inglaterra pôs-se de acordo com a
França para levantar um muro em Calais de forma a que os infelizes da sorte não
possam alcançar o seu território. Entretanto, no espaço denominado “a selva”,
milhares de migrantes vivem em condições degradantes. Chegam de todo o lado em
busca de paz e trabalho, fugindo à guerra e à fome. Para alcançarem o céu, têm
de penar naquele inferno que o governo de Hollande quer destruir amontoando-os
mais além em construções de fortuna. Esta é a imagem de uma União Europeia
incapaz de respeitar quem desarmado lhe pede auxílio. Eu sei que não é fácil
resolver o problema, mas também não ignoro que desde o princípio ele foi
empurrado com a barriga na esperança que alguns milhares desaparecessem
engolidos pelo mar. O egoísmo venceu.
- Aproveitando a acalmia do calor enfim convidativa às actividades no
exterior, trabalhei duas horas no jardim. O escalracho tinha crescido
desmesuradamente ao ponto de ter matado uma árvore e dizimado as plantas num
largo circulo. A roçadora de pouco valia, pelo que tive de o arrancar a pulso,
de joelhos no chão e depois carregá-lo num carro de mão até ao fundo do terreno
onde espero queimá-lo assim que vierem as primeiras chuvas. Admirar, contudo, o
espaço que envolve a casa, é de si um exercício fascinante. Por exemplo, onde
antes existia a majestosa palmeira que a praga dizimou, vai ser plantada uma
nogueira que o Fortuna me ofereceu. Antes porém, vou ter que reduzir o volume do
loureiro e mais tarde transplantar os buchos que o cercam se eles autorizarem. Isto
é como a decoração da casa. Se mudamos um móvel, logo temos de proceder a uma
infinita metamorfose do todo. Felizmente que há muito tempo não tenho uma dor
de rins. De contrário, eram eles que doseavam a capacidade de trabalho. Andaria
a seu mando e a natureza não esperaria como não aguarda que as estações se
ponham de acordo nos hemisférios. Quel
travail tout ça!