Sábado, 17.
Apesar de sermos apenas quatro à mesa,
nem por isso o brouhaha no Príncipe
foi menos intenso. Ainda por cima, a uma série de mesas pegadas, estava um
grande número de franceses que por si só faziam tremer a nave do restaurante. Virgílio
pediu-me por telefone que fosse ao seu encontro para falarmos do artigo que havia
escrito. Comoveu-se ele e comovi-me eu por o ver comovido. “Que diabo, não é
preciso tanto! – Que queres estou muito sensível”, rematou o humaníssimo escultor.
Isto foi à mesa da Brasileira. Depois ao almoço, juntou-se o António Segurado e
o Gordilho. Os quatro deambulámos em conversa solta pelos mais variados temas,
numa espécie de vadiagem por um tempo habitado de pessoas e acontecimentos,
cenas canalhas e entradas fugazes (com o Gordilho é inevitável) no erotismo. Deixámos
o Príncipe e o nosso artista sensível e fomos abancar no café da fnac mais
abaixo. A três, para cima de duas horas, foi um desfiar de vidas que se ligavam
umas nas outras sem um segundo de pausa. Mais uma vez, vi na nossa conversa,
naquele fio complacente de vidas muitas
delas já desaparecidas, quanto a geração do pós-guerra foi tocada pela magia da
liberdade e da solidariedade, do despreendimento dos valores materiais e da
incapacidade de organizar a vida sob moldes que hoje obsessivamente orientam a
juventude muito menos preparada do que nós para fazer face ao futuro. Apesar de
haver censura, o regime ser concentracionário, os dias pardacentos, havia na napa subjacente ao
quotidiano um murmúrio de riqueza espiritual e social, de amizade e
condescendência, que arrastava na mesma direcção velhos e novos. Aqueles porque
tiveram que arcar com as imensas dificuldades e carências da Segunda Grande
Guerra, estes porque aprenderam a construir na decência e vivência do pouco -
sem desligar da dignidade de que esse pouco era suficiente para construir com estabilidade
a felicidade -, os alicerces sólidos que tempestades e tremores de terra não desmoronaram.
Aprendemos que nada se conquista sem esforço e que o homem abastado de tudo, é
um ser frágil e incompleto que resvala facilmente para o desespero. Somos
fabulosamente livres quando não possuímos nada, a não ser a interioridade e os
valores intrínsecos à liberdade que
connosco perduram no lodaçal do mundo dos nossos dias.
- A importância que se dá a um espécime sem importância absolutamente
nenhuma. Refiro-me a Sócrates e à sua obsessão em correr com o juiz Carlos
Alexandre dos processos que o dão por ladrão, oportunista e multimilionário por
artes e amizades suspeitas, ele que ao Fisco declarava apenas o salário de
primeiro-ministro. Ontem investiu contra o Presidente da República por ele ter
visitado as instalações da judiciária, num reconhecimento implícito ao trabalho
dos magistrados, juízes e advogados que lá trabalham. Diz o pobre coitado, que Marcelo
ao visitar o DCIAP “fez um sinal político que não (lhe) escapou”, querendo
dizer que tomou posição contra si. O que se passa é que o nosso pobretanas sabe
que o cerco aperta e não lhe resta outra alternativa senão atirar em todos os
sentidos e, sobretudo, fazer arquivar os processos por expiração de prazos. Não
acredito numa palavra do Correio da Manhã, mas sem me sujar com tal jornaleco,
o que leio por todo o lado confere com a sua natureza sem cor ou com capacidade
para mudar de pigmento consoante as circunstâncias. Foi assim quando
“engenheiro” que planeou as casas-barracas lá na aldeia onde nasceu, como
ministro de Guterres, como primeiro-ministro... Desde os tempos do Freeport que
ainda virá à luz do dia, ao primo falido a quem o amigo Bataglia emprestou
milhões sem se recordar quantos, ao primeiro-ministro pobrezinho socorrido pelo
amigo dos bancos miseráveis de escola de nome Santos Silva com milhões, tantos
que também não sabe precisar, passando pelos off-shore, Vale de Lobo, a menina Lena, perdão, grupo Lena, e, e,
e... Foi gentalha desta que nos pastoreou durante anos. A história da
democracia vai um dia ser contada e o rol dos crimes praticados contra o povo e
a nação, nome por nome, não caberá no Livro Negro de uma classe política que
encobriu, esqueceu, protelou, aproveitou e arregimentou interesses e situações,
conluios e esquemas fraudulentos. O homem é um mata-borrão de crimes, chiça!
- Vou nadar a ver se me liberto de
tanta raiva.