terça-feira, julho 26, 2016

Terça, 26.
Custa-me a compreender como se pode viver sem livros. Não me refiro hoje àquilo que eles nos trazem de conhecimento, mas ao que nos dão de claridades, de estados de graça, de sublimes momentos carregados do sortilégio das palavras, das imagens, daquela teia que se forma em torno da mensagem, instrumento de magia que o autor nos pretende transmitir. Alguém poderá ficar insensível a este fragmento do livro de Laurent Gounelle, Le philosophe qui n´était pas sage! Sandro, o filósofo, está na selva brasileira e olha numa tarde abafada uma jovem ameríndia. À ce moment, une pluie fine réapparut et la statue inclina sa tête en arrière, tournant son viasage vers le ciel, les yeux clos. La pluie coula doucement sur ses paupières, ses joues, ses lèvres, ses épaules, et commença à la déshabiller lentement, três lentement. La boue se dissolvait au fure et à mesure, s´effaçait progressivement, dévoilant peu à peu la peau de la jeune femme, son corps d´une beauté sublime, sa nudité troublante. La sculpture redevenue femme resta ainsi tant que l´averse dura, puis tranquillement, entreprit de longer la rive, se rapprochant dangereusement de Sandro qui se figea de nouveau. Mais la jeune Indienne s´arrêta à la hauteur du rocher, l´escalada et s´allongea sur le dos, yeux fermés, offrant son corps au soleil enfin revenu.  

         - Quando esbarramos em textos como este, pensamos como os escritores (os autênticos e não essa escumalha que se pavoneia nas televisões como propagandista da platitude) são os únicos guardiães da língua. Numa época em que o inglês colonizou tudo e todos, cerrar fileiras em torno da nossa identidade, da nossa paternidade, das nossas raízes latinas, deve ser uma luta constante. Entre nós, os organismos que deviam estar atentos e intervir para que a língua enquanto matriz e catedral dos nossos sentimentos colectivos seja honrada e enaltecida, parece terem desistido de varrer da informação os ignorantes, os convencidos, os pacóvios que se julgam cultos quando utilizam a propósito de tudo e nada, o jargão de neologismos que inundou o nosso diálogo colectivo. Nada escapa. Até as bicicletas agora se chamam bikes.  


         - A primeira leva de figos (os pretos) fez com que aumentasse uns três centímetros de barriga. O que antes era sans relief, transformou-se num modesto melão raquítico. Andava assustado. Mas agora, mercê do meu rigor alimentar, da natação e de outros exercícios, em suma da dietética, fiquei de novo, não digo como uma tábua de engomar que seria no feminino como uma dama sem mamas, perdão, sem peito, mas vertical deixando ver os contornos de um corpo de Adónis... Se a isto juntar um corte de cabelo “à escovinha” (quer dizer o que resta) como fiz esta manhã, a tensão a 12 - 7,6, 65 kg. de peso, o ar bronzeado que apresento, estou em crer que na próxima semana o meu médico me dirá do check-up que estou aqui para mais uns cinquenta anos e sem entrar na toma de qualquer medicamento “para o resto da vida”... Parece que cada quilo a mais, conta para a coluna, ancas e pernas, em 12 kg. – e voilà porque me cuido tanto.