Terça, 26.
Custa-me a compreender como se pode viver
sem livros. Não me refiro hoje àquilo que eles nos trazem de conhecimento, mas
ao que nos dão de claridades, de estados de graça, de sublimes momentos
carregados do sortilégio das palavras, das imagens, daquela teia que se forma
em torno da mensagem, instrumento de magia que o autor nos pretende transmitir.
Alguém poderá ficar insensível a este fragmento do livro de Laurent Gounelle, Le philosophe qui n´était pas sage!
Sandro, o filósofo, está na selva brasileira e olha numa tarde abafada uma
jovem ameríndia. À ce moment, une pluie
fine réapparut et la statue inclina sa tête en arrière, tournant son viasage
vers le ciel, les yeux clos. La pluie coula doucement sur ses paupières, ses
joues, ses lèvres, ses épaules, et commença à la déshabiller lentement, três
lentement. La boue se dissolvait au fure et à mesure, s´effaçait
progressivement, dévoilant peu à peu la peau de la jeune femme, son corps d´une
beauté sublime, sa nudité troublante. La sculpture redevenue femme resta ainsi
tant que l´averse dura, puis tranquillement, entreprit de longer la rive, se
rapprochant dangereusement de Sandro qui se figea de nouveau. Mais la jeune
Indienne s´arrêta à la hauteur du rocher, l´escalada et s´allongea sur le dos,
yeux fermés, offrant son corps au soleil enfin revenu.
- Quando esbarramos em textos como este, pensamos como os escritores (os
autênticos e não essa escumalha que se pavoneia nas televisões como
propagandista da platitude) são os únicos guardiães da língua. Numa época em
que o inglês colonizou tudo e todos, cerrar fileiras em torno da nossa
identidade, da nossa paternidade, das nossas raízes latinas, deve ser uma luta
constante. Entre nós, os organismos que deviam estar atentos e intervir para
que a língua enquanto matriz e catedral dos nossos sentimentos colectivos seja
honrada e enaltecida, parece terem desistido de varrer da informação os
ignorantes, os convencidos, os pacóvios que se julgam cultos quando utilizam a
propósito de tudo e nada, o jargão de neologismos que inundou o nosso diálogo
colectivo. Nada escapa. Até as bicicletas agora se chamam bikes.
- A primeira leva de figos (os pretos) fez com que aumentasse uns três
centímetros de barriga. O que antes era
sans relief, transformou-se num modesto melão raquítico. Andava assustado.
Mas agora, mercê do meu rigor alimentar, da natação e de outros exercícios, em
suma da dietética, fiquei de novo, não digo como uma tábua de engomar que seria
no feminino como uma dama sem mamas, perdão, sem peito, mas vertical deixando
ver os contornos de um corpo de Adónis... Se a isto juntar um corte de cabelo
“à escovinha” (quer dizer o que resta) como fiz esta manhã, a tensão a 12 - 7,6,
65 kg. de peso, o ar bronzeado que apresento, estou em crer que na próxima
semana o meu médico me dirá do check-up que estou aqui para mais uns cinquenta
anos e sem entrar na toma de qualquer medicamento “para o resto da vida”... Parece
que cada quilo a mais, conta para a coluna, ancas e pernas, em 12 kg. – e voilà porque me cuido tanto.