Segunda, 25.
Ontem, na missa, sentou-se a meu lado um
rapaz que devia andar pelos seus 17 anos, vestido com uma T-shirt florida e
calções como se fosse para a praia. Nascido depois do Concílio, conhecia todos
os passos da moderna liturgia e sem pejo rezava-os, cantava-os, executava-os
com o instrumento vocal já másculo que atraía a admiração dos que estavam por
perto. Era, todavia (ou naturalmente), um moço moderno que não dispensava o
smartphone. De cinco em cinco minutos, enquanto cantava ou rezava, durante todo
o ofício, despachava mensagens para fora do templo... Bom. Acontece que eu fui
criado no conhecimento do latim e, portanto, a missa celebrada nessa língua
santificada e divina. Pelo meu fiel hodierno, pude, enfim, conhecer o charabia
que ouço há anos nas igrejas, salmodiado pelas velhas, mas obscuro aos meus
ouvidos. Como o rapaz possuía uma dicção bem definida, pude certificar-me da mediania
dos textos litúrgicos. São, salvo raras excepções, para mentecaptos, para
bebés, para pessoas gagás, que invocam Deus numa linguagem primária. Como as
missas católicas apostólicas romanas se assemelham cada vez mais aos rituais
ortodoxos, o que se assiste hoje é a uma massa compacta de sons cantados com as
vozes dos que vêm comungar da cerimónia, isto é, uma cacofonia despejada sem
aquela intimidade para mim indispensável quando nos dirigimos ao Criador. O
próprio português deixa muito a desejar. Parece haver hoje por parte da Igreja
uma permanente atitude de festa - forma de atrair os jovens. Jesus, quando se
dirigia ao Pai, escolhia o silêncio das montanhas, dos vales profundos. Nós
preferimos o salero, a rumba e o chá-chá-chá. Um pormenor. O mancebo, muito
antes do Ofertório, retirou do porta-moedas cinco cêntimos que colocou
sobre o genuflexório – a preta era a única de entre as brancas e as notas das
dádivas dos fiéis. Cada um dá o que pode, mas este deu em excesso...
- Não sei porquê ou sei mas não digo, cheira-me que o palhaço Trump vai
ser o próximo Presidente dos Estados Unidos. A senhorita Hillary, francamente!
O partido dela apostou no passado corrupto, quando devia estender a passadeira
vermelha ao homem que faz verdadeiramente a diferença: Bernie Sanders.
- Não desejo fazer deste registo um livro de óbitos. Mas é nisso que ele
se está a tornar. Os atentados florescem por todo o lado, com o número de
mortos. Desde ontem aconteceram em várias partes do mundo: de novo na Alemanha,
Estados Unidos, Iraque, Afeganistão, Inglaterra e passo. Ninguém está a salvo. E
parece-me de muito mau-gosto os nossos políticos e empresários invocarem
constantemente o facto de o país ser seguro e poder ganhar com a desgraça
alheia. Depois queixem-se.
- Aqui as temperaturas têm rondado os quarenta graus. Só consigo pôr a
cabeça de fora, depois das seis da tarde para umas braçadas na piscina cuja
água é própria para lavar os rabinhos dos bebés. Começo o meu dia antes das
sete da manhã com as regas quotidianas. Às nove tenho a jornada ganha. O que
vem a seguir é um torvelinho de afazeres de outra ordem: leituras, escrita, ida
ao café, encontros. Ando tão agitado que só o prof. Marcelo me leva a palma.