segunda-feira, julho 25, 2016

Segunda, 25.
Ontem, na missa, sentou-se a meu lado um rapaz que devia andar pelos seus 17 anos, vestido com uma T-shirt florida e calções como se fosse para a praia. Nascido depois do Concílio, conhecia todos os passos da moderna liturgia e sem pejo rezava-os, cantava-os, executava-os com o instrumento vocal já másculo que atraía a admiração dos que estavam por perto. Era, todavia (ou naturalmente), um moço moderno que não dispensava o smartphone. De cinco em cinco minutos, enquanto cantava ou rezava, durante todo o ofício, despachava mensagens para fora do templo... Bom. Acontece que eu fui criado no conhecimento do latim e, portanto, a missa celebrada nessa língua santificada e divina. Pelo meu fiel hodierno, pude, enfim, conhecer o charabia que ouço há anos nas igrejas, salmodiado pelas velhas, mas obscuro aos meus ouvidos. Como o rapaz possuía uma dicção bem definida, pude certificar-me da mediania dos textos litúrgicos. São, salvo raras excepções, para mentecaptos, para bebés, para pessoas gagás, que invocam Deus numa linguagem primária. Como as missas católicas apostólicas romanas se assemelham cada vez mais aos rituais ortodoxos, o que se assiste hoje é a uma massa compacta de sons cantados com as vozes dos que vêm comungar da cerimónia, isto é, uma cacofonia despejada sem aquela intimidade para mim indispensável quando nos dirigimos ao Criador. O próprio português deixa muito a desejar. Parece haver hoje por parte da Igreja uma permanente atitude de festa - forma de atrair os jovens. Jesus, quando se dirigia ao Pai, escolhia o silêncio das montanhas, dos vales profundos. Nós preferimos o salero, a rumba e o chá-chá-chá. Um pormenor. O mancebo, muito antes do Ofertório, retirou do porta-moedas cinco cêntimos que colocou sobre o genuflexório – a preta era a única de entre as brancas e as notas das dádivas dos fiéis. Cada um dá o que pode, mas este deu em excesso...

         - Não sei porquê ou sei mas não digo, cheira-me que o palhaço Trump vai ser o próximo Presidente dos Estados Unidos. A senhorita Hillary, francamente! O partido dela apostou no passado corrupto, quando devia estender a passadeira vermelha ao homem que faz verdadeiramente a diferença:  Bernie Sanders.  

         - Não desejo fazer deste registo um livro de óbitos. Mas é nisso que ele se está a tornar. Os atentados florescem por todo o lado, com o número de mortos. Desde ontem aconteceram em várias partes do mundo: de novo na Alemanha, Estados Unidos, Iraque, Afeganistão, Inglaterra e passo. Ninguém está a salvo. E parece-me de muito mau-gosto os nossos políticos e empresários invocarem constantemente o facto de o país ser seguro e poder ganhar com a desgraça alheia. Depois queixem-se.


         - Aqui as temperaturas têm rondado os quarenta graus. Só consigo pôr a cabeça de fora, depois das seis da tarde para umas braçadas na piscina cuja água é própria para lavar os rabinhos dos bebés. Começo o meu dia antes das sete da manhã com as regas quotidianas. Às nove tenho a jornada ganha. O que vem a seguir é um torvelinho de afazeres de outra ordem: leituras, escrita, ida ao café, encontros. Ando tão agitado que só o prof. Marcelo me leva a palma.