Domingo, 10.
Sem qualquer surpresa, Durão barroso
ocupou o cargo de presidente não executivo do sinistro Goldman Sachs. É o
prémio por ter sido um medíocre presidente da Comissão Europeia, um
chico-esperto que se ligou de amizades com todos os grandes vigaristas deste
mundo, navegou em todos os barcos, sempre de sorriso macaco no rosto anafado,
sem nunca se comprometer com ninguém, passando incólume a todas as catástrofes
sem afrontar os dramas, resolver os conflitos, conduzir a UE por caminhos
democráticos na defesa dos cidadãos e das raízes que deram sentido à União. Por
fim, é o único português que recebeu vários prémios por ter cedido as Lajes ao alcoólico
George W. Bush, sem autorização dos portugueses. Ele fez ou faz parte ainda
dessa seita mafiosa que dá pelo nome de Bilderberg, muito ligada a lóbis e à
finança internacional, de que não se sabe o que discutem, nem o que aprovam nas
reuniões realizadas em sítios de grande luxo. Ele iniciou a série de políticos medíocres e gananciosos que por aí pululam e aprenderam com ele.
- No almoço que reuniu no Príncipe os meus amigos escultores Vergílio,
Carlos, Gordilho; o pintor Guilherme Parente, Paulo Santos que escreveu duas
interessantes brochuras sobre a Marinha, um amigo deste e o actor Alexandre de
Sousa foi, como direi, um recreio de crianças desassossegadas. Sob a placa que
detém os seus nomes e dos falecidos, o convívio versou temas como a história,
as catedrais, a arte românica, tudo tocado a vinho tinto e branco à mistura com
evidências eróticas e palavreado salteado de impropérios, numa sã e salutar camaradagem
que só se encontra entre artistas para quem a liberdade não tem fronteiras nem
cede à moral paralisante. Terminado o ágape, foi só atravessar a rua para o
outro lado e entrar no palácio do século XV onde Guilherme tem dois andares. Espapaçados
nos cadeirões do primeiro andar, o corpo a pedir uma soneca benfazeja, rodeados
do mundo do pintor onde as telas se acumulam às centenas no chão, nas bancas
largas, nas mesas e tripés houve ainda um pequeno adito na forma de um Porto
com trinta anos que o Carlos queria absolutamente que provássemos. Eu, se me
deixassem, entraria de bom grado no mundo de Morfeu, mas o tumulto entre nós,
com a ajuda de mais aquele cálice de perturbação, tornou o Gordilho nostálgico
e foi um desfiar de histórias ligadas ao tempo do Convés, Monumental, Montecarlo,
lugares icónicos que atraíam a nata da intelectualidade, com suas condutas
paralelas, seus cosmos oceânicos onde a pequena vidinha rasteira carregada de inquietações
amorosas e facadinhas nas costas e segredos políticos passavam de mesa em mesa,
nos redondos cenáculos que os frequentadores sabiam onde encontrar os escritores,
os jornalistas, os artistas plásticos, os de esquerda, os homossexuais, os
actores, os “empata fodas”, sempre na precaução de não haver por perto um
agente da PIDE. Gordilho acamarada comigo na memória desses tempos airosos e
lunares, transportados nas recordações e no viver de uma época onde os cafés
eram sítios de tertúlia, encontro e aprendizagem democrática, sem esquecer a
perseverante intervenção social e política que haveria de desaguar no 25 de
Abril de 1994... Uma enfiada de nomes surgiram na tarde abafada, trazendo
lembranças tão opostas aos tempos presentes, cada um por si e Deus por todos,
egoísmo a pacovice na obsessão de ganhar dinheiro, exibir o carro e a roupa de
marca, o smartphone ou a tablet, oposta à alegria da vida, das horas soltas, do
gozo pleno dos instantes ensopados de liberdade: Ary dos Santos, José Saramago,
Isabel da Nóbrega, Augusto Abelaira, Carlos Oliveira, Pedro Támen, Urbano T.
Rodrigues, Paulo Renato, Alexandre Ribeirinho, Alexandre O´Neill, José Gomes
Ferreira, Borges Coelho, Bernardo Santareno, Cardoso Pires, Alexandre Cabral, Fernando
Gusmão, Teresa Horta, Escada e tantos outros que eu conheci, com quem privei e
estimei.