sexta-feira, julho 15, 2016

Sexta, 15.
Bom. O Reino (ainda) Unido mudou de rumo. Saiu David Cameron e entrou uma senhora que adora sapatos chamada Theresa May. Como o seu predecessor, conservadora, tendo votado pela permanência da Inglaterra na União Europeia. Depois de ter ido ao beija-mão real (a propósito: por que raio anda a Rainha em casa sempre de mala pendurada no braço? É adereço ou medo que lhe roubem as libras? Vou perguntar ao meu amigo Francis que deve saber a razão porque frequenta o palácio de Buckingham), apresentou o seu Governo. E aqui surgem as cómicas escolhas que surpreenderam meio mundo. A começar pelo burlesco ex-mayor de Londres e líder primeiro do Brexit, que insultou os gurus políticos da Europa e até Barack Obama e Putin, para ministro dos Negócios Estrangeiros. Assim que souberam da escolha, alguns apressaram-se a chamar-lhe mentiroso, como foi o caso de Jean-Marc Auyault como se ele e os camaradas do seu partido falassem sempre verdade. Seja como for, os ingleses são impagáveis. A democracia e o humor britânicos estão, parece-me, acima da política, como provam as escolhas da eleita primeira-ministra ao chamar para o poder os eurocépticos. Temos mulher!

         - Já a Europa!... A noite passada, Dia da Bastilha, o célebre Passeio dos Ingleses, em Nice, foi o local escolhido para um atentado que os franceses atribuem à Daesh. Um camião, conduzido por um tunisino de trinta e um anos, varreu literalmente a marginal levando na frente tudo e todos. Morreram até agora 84 pessoas, entre crianças e adultos, ficaram feridas para cima de uma centena. A covarde agressão semeou o pânico e viveram-se momentos terríveis que pareciam ter saído de um filme de terror. Temendo pela Annie que lá tem um apartamento, apressei-me a contactá-la. Felizmente ela está em Kiberon. Entretanto, aquele que está na origem deste cenário horroroso, entrou para o banco criminoso Goldman Sachs com um chorudo salário.

         - Também a Itália conheceu a morte. O acidente ferroviário perto de Puglia, ficou a dever-se a engenhoca antiga que regula o trânsito entre estações e levou a que dois comboios chocassem de frente. Resultado: 23 mortos, 52 feridos. Os italianos revoltados dizem que há muito que não há investimento na modernização da rede circulante. O Governo responde: “Não há dinheiro.”

         - Devido à canícula, não tenho podido nadar. A água não pára de mudar de cor como a desafiar as nuances do céu. Ontem e hoje estiveram aqui 38 graus.


         - Entrei nas derradeiras 100 páginas de correcção do romance. Ainda não tem título definitivo, mas o que me é dado ler deixa-me no limite da surpresa e da apreensão. Há momentos muito difíceis, violentos, que à distância de mais de dois anos, ainda hesito se devo ou não deixar passar. Acresce a liberdade da linguagem, o lado erótico e até por vezes pornográfico, que está, é certo, na vida, mas que a mim abala. Por sobre tudo, julgo ter uma voz e uma escrita que não encontro em nenhum outro autor nacional.