Sexta, 15.
Bom. O Reino (ainda) Unido mudou de rumo.
Saiu David Cameron e entrou uma senhora que adora sapatos chamada Theresa May.
Como o seu predecessor, conservadora, tendo votado pela permanência da
Inglaterra na União Europeia. Depois de ter ido ao beija-mão real (a propósito:
por que raio anda a Rainha em casa sempre de mala pendurada no braço? É adereço
ou medo que lhe roubem as libras? Vou perguntar ao meu amigo Francis que deve
saber a razão porque frequenta o palácio de Buckingham), apresentou o seu
Governo. E aqui surgem as cómicas escolhas que surpreenderam meio mundo. A
começar pelo burlesco ex-mayor de Londres e líder primeiro do Brexit, que
insultou os gurus políticos da Europa e até Barack Obama e Putin, para ministro
dos Negócios Estrangeiros. Assim que souberam da escolha, alguns apressaram-se
a chamar-lhe mentiroso, como foi o caso de Jean-Marc Auyault como se ele e os
camaradas do seu partido falassem sempre verdade. Seja como for, os ingleses
são impagáveis. A democracia e o humor britânicos estão, parece-me, acima da
política, como provam as escolhas da eleita primeira-ministra ao chamar para o
poder os eurocépticos. Temos mulher!
- Já a Europa!... A noite passada, Dia da Bastilha, o célebre Passeio
dos Ingleses, em Nice, foi o local escolhido para um atentado que os franceses
atribuem à Daesh. Um camião, conduzido por um tunisino de trinta e um anos,
varreu literalmente a marginal levando na frente tudo e todos. Morreram até
agora 84 pessoas, entre crianças e adultos, ficaram feridas para cima de uma
centena. A covarde agressão semeou o pânico e viveram-se momentos terríveis que
pareciam ter saído de um filme de terror. Temendo pela Annie que lá tem um
apartamento, apressei-me a contactá-la. Felizmente ela está em Kiberon. Entretanto,
aquele que está na origem deste cenário horroroso, entrou para o banco
criminoso Goldman Sachs com um chorudo salário.
- Também a Itália conheceu a morte. O acidente ferroviário perto de
Puglia, ficou a dever-se a engenhoca antiga que regula o trânsito entre
estações e levou a que dois comboios chocassem de frente. Resultado: 23 mortos,
52 feridos. Os italianos revoltados dizem que há muito que não há investimento
na modernização da rede circulante. O Governo responde: “Não há dinheiro.”
- Devido à canícula, não tenho podido nadar. A água não pára de mudar de
cor como a desafiar as nuances do céu. Ontem e hoje estiveram aqui 38 graus.
- Entrei nas derradeiras 100 páginas de correcção do romance. Ainda não
tem título definitivo, mas o que me é dado ler deixa-me no limite da surpresa e
da apreensão. Há momentos muito difíceis, violentos, que à distância de mais de
dois anos, ainda hesito se devo ou não deixar passar. Acresce a liberdade da
linguagem, o lado erótico e até por vezes pornográfico, que está, é certo, na
vida, mas que a mim abala. Por sobre tudo, julgo ter uma voz e uma escrita que
não encontro em nenhum outro autor nacional.