Quarta, 6.
Ainda o João Corregedor. Falámos do
esforço que ele generosamente tem feito para que O Rés-do-Chão de Madame Juju veja a luz do dia. Eu, decerto um
pouco impaciente, argumentava com esta e aquela razão para que os editores tardassem
tanto em responder. Ele contra argumentava – e aqui reside o cerne da minha
reflexão – “eles têm o dever de responder”. Sim, meu amigo. Mas essa atitude de
dignidade e boa educação associada ao dever, pertence ao nosso mundo quando as
relações humanas se exerciam na base da cordata convivência dos princípios
morais e cívicos. Actualmente instalou-se o caos, o salve-se-quem-puder, a
ganância de acudir a quem pode somar valor ao valor, para além de uma certa
atitude presumida e sobranceira que força quem necessita à humilhação de insistir
porque o outro lado vê nisso o verdadeiro interesse, a luta pelo pão nosso de
cada dia. Foi o que me disse o Filipe quando levou meio ano a telefonar,
insistir, humilhar-se para que o dono da agência de publicidade, enfim, lhe
respondesse: “Vou admiti-lo porque você lutou pelo posto. A sua luta dá-me garantias
de que se vai obstinar no trabalho.” Uma sociedade de escravos, obedientes,
humildes e à fome, é a ideal para a globalização que se desenvolve e racha o
mundo em duas metades: os muito ricos e os muito pobres, os acomodados e os precários.
A classe média oscilará ora para um lado, ora para o outro.
- Não nos bastava toda a sorte de vexame e chantagem de que somos
vítimas por parte dos despóticos de Bruxelas, temos ainda de gramar a dupla
Passos Coelho/Mãe-de-Todas-as-Mães praticando uma oposição mísera, rasteira e
mesquinha. Pobre país! A única que marca a agenda política com relevância e
autoridade, é a pequerrucha do BE. O PCP que sempre teve uma posição destacada
e nítida quanto à UE, está baralhado e não despega da atarantação a que o
acordo com o PS o amarrou. Dito isto, espero que António Costa não ceda ante a
ditadura do Eurogrupo, Ecofin, e toda a camarilha associada para manter os pequenos
países como plataforma de mão-de-obra barata.
- A política praticada por toda a Europa, é o nojo que se vê no Reino
Unido. Todos ou quase os líderes políticos que fizeram propaganda pela saída do
país do euro, abandonaram o barco, os simpatizantes, o partido. São
irresponsáveis, não merecem nenhuma espécie de respeito, são covardes e pouco
dignos. Não são, todavia, diferentes de todos os outros. Na UE o the same é catalisador.
- A sombra outonal invadiu a terra fechando-a num manto de nevoeiro.
Aproveitei para de manhã muito cedo atacar o escalracho que cresceu em torno da
piscina. Apesar de o trabalho aqui não ter fim, pergunto-me o que seria de mim
se habitasse um andar em Lisboa. Com certeza estaria como alguns dos meus
amigos atacado de reumático, neurastenia e felicidade nostálgica.
- As manifestações tristes e pacóvias que vejo na TV à selecção que eles
chamam de Portugal, estão no auge. A esperança que o grupo de jogadores ganhe,
enfim, hoje a primeira partida parece ser dramática. A sarna não pode falhar.
Por mim, se isso faz feliz milhões de pessoas, que aconteça e acabe depressa com
a comichão que nos põe a todos malucos.