Segunda, 18.
Eu chamei-lhe “pseudo golpe militar”, mas
o que queria dizer era inventona militar. Porque percebe-se cada vez melhor a
quem o golpe serviu. O senhor Erdogan há muito que queria ver-se livre dos
opositores e levar a dianteira ao barbudo senhor Abu Bakr al Bagdadi na
instauração de um califado e consequente Império Otomano. Morreram até agora
quase 300 pessoas e a caça às bruxas ultrapassa largamente a levada a cabo pelo
Estado Novo com a captura de alegados golpistas em número de 6000. Os juízes
estão à cabeça e a lavagem ao cérebro começou com a necessidade de restaurar a
pena de morte. Derivado à sua situação geoestratégica, a Turquia é um vulcão em
ebulição.
- Pequenos grandes prazeres. O encontro, sábado, com o Simão e ontem com
a Maria José. A atmosfera do salão à hora das sombras. O fim de tarde no jardim
e as regas batidas pela nortada benfazeja. A luz das manhãs saídas das noites
estrelares. O livro que se abre e se fecha deixando na epiderme a frescura das
palavras. O silente murmúrio que atravessa os muros e fica como uma presença
amiga. O espaço sossegado quando o olho do fundo de todas as recordações aqui
vividas, aqui sepultadas. A serenidade das horas batidas de esperanças
renovadas. Aquele programa exibido pela TV5 Monde, apresentando o destino de um
sociólogo que deixou tudo para ser padeiro. A leveza eterna das suas palavras, a
paz que reinava no interior da casa, o campo verdejante a perder de vista, a
neve cristalina vestindo a paisagem de um branco sem mácula, o retorno ao
passado da matéria-prima consagrada. O frison de serenidade que banha todos os
dias e a qualquer hora este espaço onde a natureza corajosamente se ergue de um
sono de estrelas cintilantes. A memória da chuva no Inverno. O crepitar da
lenha na lareira. O diálogo do vento com as árvores. O friso na terra deixado
pelas cobras e lagartos. As teias de aranha construindo arranha-céus nos cantos
da casa. Os fios translúcidos onde as horas repousam nas tardes abafadas. As
hortênsias finando-se envoltas nos seus
vestidos de palha outrora flores exuberantes. Os grilos roucos. O perfume das
figueiras ardendo no dia suspenso do calor abrasador. E tudo o que por aqui
passa e ao passar imprime na silhueta do silêncio a impenetrável presença do
mistério que atravessa tudo, que está em tudo...