segunda-feira, julho 18, 2016

Segunda, 18.
Eu chamei-lhe “pseudo golpe militar”, mas o que queria dizer era inventona militar. Porque percebe-se cada vez melhor a quem o golpe serviu. O senhor Erdogan há muito que queria ver-se livre dos opositores e levar a dianteira ao barbudo senhor Abu Bakr al Bagdadi na instauração de um califado e consequente Império Otomano. Morreram até agora quase 300 pessoas e a caça às bruxas ultrapassa largamente a levada a cabo pelo Estado Novo com a captura de alegados golpistas em número de 6000. Os juízes estão à cabeça e a lavagem ao cérebro começou com a necessidade de restaurar a pena de morte. Derivado à sua situação geoestratégica, a Turquia é um vulcão em ebulição.


         - Pequenos grandes prazeres. O encontro, sábado, com o Simão e ontem com a Maria José. A atmosfera do salão à hora das sombras. O fim de tarde no jardim e as regas batidas pela nortada benfazeja. A luz das manhãs saídas das noites estrelares. O livro que se abre e se fecha deixando na epiderme a frescura das palavras. O silente murmúrio que atravessa os muros e fica como uma presença amiga. O espaço sossegado quando o olho do fundo de todas as recordações aqui vividas, aqui sepultadas. A serenidade das horas batidas de esperanças renovadas. Aquele programa exibido pela TV5 Monde, apresentando o destino de um sociólogo que deixou tudo para ser padeiro. A leveza eterna das suas palavras, a paz que reinava no interior da casa, o campo verdejante a perder de vista, a neve cristalina vestindo a paisagem de um branco sem mácula, o retorno ao passado da matéria-prima consagrada. O frison de serenidade que banha todos os dias e a qualquer hora este espaço onde a natureza corajosamente se ergue de um sono de estrelas cintilantes. A memória da chuva no Inverno. O crepitar da lenha na lareira. O diálogo do vento com as árvores. O friso na terra deixado pelas cobras e lagartos. As teias de aranha construindo arranha-céus nos cantos da casa. Os fios translúcidos onde as horas repousam nas tardes abafadas. As hortênsias finando-se envoltas  nos seus vestidos de palha outrora flores exuberantes. Os grilos roucos. O perfume das figueiras ardendo no dia suspenso do calor abrasador. E tudo o que por aqui passa e ao passar imprime na silhueta do silêncio a impenetrável presença do mistério que atravessa tudo, que está em tudo...