Quarta, 27.
Um bárbaro atentado ocorrido a mando da
Daesh na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray perto de Rouen. O padre Jacques
Hamel, 86 anos, celebrava missa quando dois pulhas entraram e o degolaram.
Antes obrigaram-no a ajoelhar, assim como a quatro freiras, e ainda tiveram
tempo para filmar o acto. A polícia alertada chegou a tempo de os liquidar. É
incompreensível toda esta banalização de crimes hediondos, como se a pessoa
humana fosse uma qualquer coisa inútil que se despacha para as sombras da
morte. O sacerdote, no dizer dos paroquianos, era uma pessoa impecável, aquilo
a que se pode chamar um santo. A Igreja de S. Francisco que é de todas a mais
tolerante, foi atacada cobarde e simbolicamente.
- Mas a gente ouve os psicólogos a divagar sobre a vaga de criminosos
que a soldo pessoal ou dos extremos políticos tem aparecido, e estarrece. Falam
eles de mimetismo ou gente que quer ter o seu momento de glória, as banalidades
habituais. Pobres coitados! Deviam ser tratados de psicose delirante. Basta um
lançar a semente, para logo a multidão de analfabetos e oportunistas lhe seguir
a rábula. É como se esses jovens escolhessem a morte depois de o mundo os canonizar
pelo arrojo dos crimes. Heitor, o herói troiano, nos antípodas.
- O Guilherme, perguntou-me se podia utilizar o texto que eu há dias
aqui escrevi, no catálogo da exposição que conta fazer no mês de Novembro, em
Paris. Que respondi eu? Dão-se alvissaras.
- Hoje, por imposição do tratorista que veio gradear o terreno, tive
alvorada às cinco e meia. O homem dizia e com razão que com o calor que tem
feito era desumano trabalhar à torreira do sol. Contudo, mal calculada a
operação quando domingo aí esteve, a máquina era fraca para a quantidade de
feno que o Inverno produziu e “deslicou” (para utilizar a expressão de Madame
Juju). Já não retornou de tarde. Fosse porque a temperatura subiu ou porque o
trator não andou. Eu estou bêbado de sono.
- Faleceu o António Inverno. Um artista empenhado, uma personalidade
tumultuosa, um amigo que eu muito estimava. Estas páginas passadas estão cheias
do nosso convívio. Não resistiu à diabetes que o ia comendo aos poucos. Durante
anos foi talvez o melhor serígrafo da Europa, com trabalhos notáveis para
Vieira da Silva, Arpad, Cargaleiro e tantos, tantos outros. O seu temperamento
impulsivo, conhece agora o repouso eterno. Descasa em paz, terno amigo.