Sábado, 30.
Ontem no Aqui Há Peixe para onde o
Guilherme Parente me arrastou, discutimos o texto que ele faz questão ser eu a
escrever para a exposição de Paris. A base é a que apresentei aqui, embora eu
queira desenvolver o paralelo entre a sua pintura e de Picasso que,
aparentemente, nada tem a ver uma com a outra. Mas Guilherme não sabe o que
pensava Jean Cocteau da pintura do Catalão. Bom. O restaurante é pouso de
políticos e artistas (poucos) entre muitos Catroga. O nosso bonacheirão
economista, tem lá garfo e faca e os preços são upa upa. Como fazia um calorão
e a sala estava bem climatizada, a conversa estendeu-se pela tarde num rosário
de nomes e conjunturas. Fomos os últimos a sair. O meu amigo contou-me uma
noite naquele restaurante com a Duquesa d´Alba. Eu dava tudo para a ter
conhecido. Ela abancou sem marcação e só pediu que não passassem para fora que
ali se encontrava com a secretária, o marido e o motorista que comeu no
restaurante em frente. Diz-me o Guilherme que foi uma reinação à moda da
simpática María del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia Fernanda
Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita Castor Dorotea
Santa Esperanza Fitz-James Stuart y Falcó de Silva y Gurtubay. Ela gozou bem a
vida e... à espanhola. Nas tintas para a dita “boa sociedade” da qual provinha,
os preconceitos e a moral balofa, a minha divertida tia.
- Sócrates pelos vistos ainda tem audiência. Esquecendo-se de que já não
é primeiro-ministro, convocou os jornalistas para chamar arrogante ao juiz que
coordena os inúmeros processos judiciais de que é suspeito. Pela língua morre o
peixe. Se houve após 25 de Abril algum dirigente político mais arrogante do que
ele, que alguém me diga o seu nome. Por muito que interrogue a minha memória e
eu tenho-a impecável, não encontro. A estratégia dele é fácil de perceber: ao
insistir nos prazos para a condenação, quer esquivar-se com a sua caducidade ao
julgamento. Foi assim que muitos ladrões de alto coturno deste país escaparam. Aquela
cabeça não pára de engendrar narrativas rancorosas.
- A Annie falou-me na razia que os jhiadistas estão a fazer nas igrejas
de norte a sul do país. Roubam e destroem as imagens religiosas que adornam os
altares. A extrema-direita francesa contactou-a para lhe pedir dinheiro para reconstruir
o que os bárbaros desfazem. Tratando-se da facção que é, ela recusou a verba mas
escreveu ao responsável pelo pelouro narrando-lhe o que está a acontecer.