quarta-feira, junho 29, 2016

Quarta, 29.
A nossa informação é uma grande tristeza: estreita no pensar e reflectir, enviesada, pelintra, com poucos profissionais dignos deste nome, apostada em ouvir as conversas do exterior e retransmiti-las aqui como originais, eternamente pacóvia e seguidora da padronização que não admite a discordância, a comparação, a singularidade. O que se tem passado ao nível do Brexit é disso prova cabal e rotunda: a cassete dá menos trabalho que a pesquisa jornalística ou o pensar pela sua própria cabeça. Se é este o jornalismo que se aprende nas universidades, sinceramente, prefiro a tarimba e o subir a pulso que existia quando para o jornalismo entrei. 

         - Deixei-me fazer uma pergunta idiota: se os políticos estão seguros de que os povos sob o domínio da União Europeia estão satisfeitos, porque têm tanto medo do referendo que é, portanto, a mais sagrada insígnia da democracia!

         - O clima político saído da magnífica decisão inglesa, está a acomodar-se às circunstâncias. A libra depois de ter descido um pouco está a regularizar-se, os negócios estão menos excitados, na bolsa os especuladores, perdão, os investidores parecem começar a sorrir, e dentro em breve temos o Reino Unido a fazer grandes negócios com todo o mundo. O previsto. O normal entre seguidores obsessivos do capital.

          - Resta a UE, a nossa querida usurpadora e sugadora das nossas vidas. Para acalmar aqueles que de orelha a orelha e bico calado ostentam a esperança de um referendo, ela retorque com a ideia de “repensar a Europa”. Words,  paroles, text, tekst, palavras. A prova está na opção de reunir os dirigentes que começaram o projecto, deixando de parte todos os outros que nele entraram ao longo dos anos. Esta União está putrefacta, é dirigida por uma colónia de gente corrupta, desumana, que só pensa nos negócios, que a construiu, de resto, apenas para ganhar e dar a ganhar somas astronómicas de euros e dólares, carregando os cidadãos de impostos, carência de trabalho, desarrumação económica e financeira, crises umas a seguir às outras, desemprego galopante, reformas miseráveis, empregos periclitantes, usurpação de direitos laborais que levaram um século a conseguir. Eu não acredito minimamente nesta gente. É a mesma que disse que tudo ia mudar quando os povos do euro, nas últimas eleições europeias, em 2014, atingiram quase 70 por cento de abstenções.

         - Mas se António Costa disser o mesmo que respondeu à SIC na reunião de líderes com pequeno-almoço incluído, a saber: pensar o descontentamento em relação ao projecto europeu por parte dos cidadãos, ponderar as causas do leave como mais importantes que tudo o resto, o primeiro-ministro recentra a discussão no fundamental e pode fazer a diferença numa assembleia de yes. Se for para exprimir as barbaridades do costume, sem tocar na estrutura ou nomenclatura, como o faz o anafado e patético Durão Barroso, que se entregou aos negócios depois de ter falhado em tudo, o pobrezito, então é melhor que fique calado e espere calmamente pelos desastres e ódios que os principais líderes europeus dirijam a Portugal.


         - Istambul foi de novo atacada. Desta vez no centro do aeroporto internacional como aconteceu em Bruxelas, o que leva a pensar tratar-se de golpe do Daesh. Morreram 36 pessoas e mais de cem foram feridas. Um triplo atentado com explosões no momento do registo de embarque. Não há ainda confirmação quanto à origem de mais um acto bárbaro.