Quarta, 29.
A nossa informação é uma grande tristeza:
estreita no pensar e reflectir, enviesada, pelintra, com poucos profissionais
dignos deste nome, apostada em ouvir as conversas do exterior e retransmiti-las
aqui como originais, eternamente pacóvia e seguidora da padronização que não
admite a discordância, a comparação, a singularidade. O que se tem passado ao
nível do Brexit é disso prova cabal e rotunda: a cassete dá menos trabalho que a
pesquisa jornalística ou o pensar pela sua própria cabeça. Se é este o jornalismo que se aprende nas
universidades, sinceramente, prefiro a tarimba e o subir a pulso que existia
quando para o jornalismo entrei.
- Deixei-me fazer uma pergunta idiota: se os políticos estão seguros de
que os povos sob o domínio da União Europeia estão satisfeitos, porque têm tanto medo do referendo que é, portanto, a mais sagrada insígnia da
democracia!
- O clima político saído da magnífica decisão inglesa, está a
acomodar-se às circunstâncias. A libra depois de ter descido um pouco está a
regularizar-se, os negócios estão menos excitados, na bolsa os especuladores,
perdão, os investidores parecem começar a sorrir, e dentro em breve temos o
Reino Unido a fazer grandes negócios com todo o mundo. O previsto. O normal
entre seguidores obsessivos do capital.
- Resta a UE, a nossa querida usurpadora e sugadora das nossas vidas.
Para acalmar aqueles que de orelha a orelha e bico calado ostentam a esperança
de um referendo, ela retorque com a ideia de “repensar a Europa”. Words, paroles, text, tekst, palavras. A prova está na opção de reunir os dirigentes que
começaram o projecto, deixando de parte todos os outros que nele entraram ao
longo dos anos. Esta União está putrefacta, é dirigida por uma colónia de gente
corrupta, desumana, que só pensa nos negócios, que a construiu, de resto,
apenas para ganhar e dar a ganhar somas astronómicas de euros e dólares,
carregando os cidadãos de impostos, carência de trabalho, desarrumação económica
e financeira, crises umas a seguir às outras, desemprego galopante, reformas
miseráveis, empregos periclitantes, usurpação de direitos laborais que levaram
um século a conseguir. Eu não acredito minimamente nesta gente. É a mesma que
disse que tudo ia mudar quando os povos do euro, nas últimas eleições
europeias, em 2014, atingiram quase 70 por cento de abstenções.
- Mas se António Costa disser o mesmo que respondeu à SIC na reunião de
líderes com pequeno-almoço incluído, a saber: pensar o descontentamento em
relação ao projecto europeu por parte dos cidadãos, ponderar as causas do leave como mais importantes que tudo o
resto, o primeiro-ministro recentra a discussão no fundamental e pode fazer a
diferença numa assembleia de yes. Se
for para exprimir as barbaridades do costume, sem tocar na estrutura ou
nomenclatura, como o faz o anafado e patético Durão Barroso, que se entregou
aos negócios depois de ter falhado em tudo, o pobrezito, então é melhor que
fique calado e espere calmamente pelos desastres e ódios que os principais
líderes europeus dirijam a Portugal.
- Istambul foi de novo atacada. Desta vez no centro do aeroporto
internacional como aconteceu em Bruxelas, o que leva a pensar tratar-se de
golpe do Daesh. Morreram 36 pessoas e mais de cem foram feridas. Um triplo
atentado com explosões no momento do registo de embarque. Não há ainda
confirmação quanto à origem de mais um acto bárbaro.