Sábado, 18.
Anteontem aproveitando a amenidade do
dia, trabalhei várias horas com a roçadora e consegui limpar todo o jardim das
ervas indesejáveis. As hortênsias sorriem melhor e mais resplandecentes. São
elas que por todo o lado inundam e abraçam os espaços. Tenho alguns olhinhos de
um verde escuro a sair da terra – são as futuras abóboras uma cucurbitácea vinda das grandes
civilizações antigas que sobreviveu através dos séculos até encontrar a minha
predilecção. Glória a Deus!
- Estive um tempo a matar moscas. Depois chateei-me e fui ler Heidegger,
mas este é um moscão que me ia matando a mim...
- Experimento sempre um sentimento de abandono quando tenho que me
despedir de uma peça de roupa. É o caso agora das minhas velhas Levi Strauss,
as autênticas, compradas há mais de trinta anos e que ontem, num exercício de
jardinagem se romperam à altura do joelho que os homens cobiçam e deixa as
mulheres indiferentes. A Piedade diz-me que as use com o rasgão “porque está na
moda”. Mas eu detesto o ridículo dos velhos que não assumem a idade e tudo
fazem para aprontar atitudes e trejeitos de rapaz, quando os anos estão
estatelados no seus cérebros vetustos e na rede de rugas dos rostos, não percebendo
que acentuam a velhice quando a pretendem disfarçar. Por isso, vou usá-las, mas
somente aqui na quinta.
- A classe política, entenda-se CDS, PSD, PS, tremeu anteontem com o
boato de que a Comissão Europeia ia fazer uma investigação à CGD. Logo vieram a
terreiro uns quantos a indignar-se contra a ingerência de Bruxelas, facto
curioso quando os vemos calados ante os atentados frequentes à independência
nacional e à humilhação dos portugueses por parte da ditadura tecnocrata amesendada
no monstro de vidro na Bélgica.