quarta-feira, junho 08, 2016

Quarta, 8.
Uma bomba explodiu perto do Grande Bazar de Istambul. Morreram onze pessoas e várias ficaram feridas. O Governo atribuiu o atentado aos separatista curdos, os mesmos que quando visitei o país ninguém queria falar deles, mas estavam presentes em todos os pensamentos. Não distante fica a célebre e maravilhosa Mesquita Azul onde fiquei por um tempo a respirar a atmosfera, sob a imensa e luminosa área coberta de tapetes. A Zitó que me acompanhou, por respeito e recolhimento, cobriu a cabeça e registei-a nessa atitude em fotografia. Nesse tempo, Constantinopla era uma cidade onde se respirava serenidade e segurança. Nas tardes de calor, havia muitas árvores e os visitantes sentiam-se leves e aéreos flanando pelo Bazar e pela margem oriental separada pelo Bósforo. De todas as cidades que visitei, Istambul e Viena de Áustria, foram as que prometi a mim próprio um dia tornar. A Viena irei em breve, quanto a Constantinopla...

         - Terminei a revisão das primeiras 100 páginas de A Vertigem do Amor (não sei se será este o título definitivo). Atravesso uma fase florescente. Talvez devido ao tempo cintilante da luz do sol. Catapultado aos cumes dos espaços siderais, fico horas por lá pisando a terra como o grilo saltando nos beirais onde a erva luze. Quero tanto tudo e nada! Ser e não ser, viver e morrer! Descer sobre mim sem me tocar, sem sequer consentir vida nos regatos serpenteantes do meu corpo golfando sangue por ramais de choupos agitados pelo vento interior que estimula e entontece. Abandonar-me num lugar cinzento ou vermelho ou violáceo e ficar esquecido por séculos fecundos a rememorar os anos felizes que nunca tive, os amores que murcharam, os instantes volatilizados na mágoa libertadora de coisa nenhuma. Ou ser esquecido como aconteceu a Fouquet na cave da prisão, eu comigo, eu com os meus fantasmas, eu com o tempo lesto inútil carpido do alvor ao entardecer. Ou paralisado a olhar a serra que avisto do lugar da criação e fazê-lo com tal força que a paisagem se dissolva e as árvores aridifiquem e os montes se fragmentem, e seja o céu de um azul imaculado que fique aberto no horizonte que não avisto em profunda ligação entre a Natureza e o Sagrado.

         - Este sublime poema de César Vallejo que acompanhou Jorge Sumprun:

         Al fin de la batalla,
         Y muerto el combatiente, vino hacia él un hombre
         y le dijo: “No mueras, te amo tanto!”
         Pero el cadáver ay! siguió muriendo.


         - Junger, em carta ao pai, registada no volume V de Soixante-dix s´efface (pág. 84, Gallimard), 31 de Maio de 1992: Je voudrais en particulier te rappeler l´importance du soleil: “Quand le soleil apparaît, le médecin disparaît.” Este provérbio chinês cumpriu a sua função, pois o escritor durante toda a sua longa vida, frequentou as praias e as dunas, os banhos de mar e o sol mediterrânico.