Quinta, 9.
Espectáculo vergonhoso ontem no
Parlamento Europeu com algumas verdades como socos atiradas à cara de Tsipras.
Todavia, os dados estão lançados. Jean-Claude Juncker disse que a Europa dos
gananciosos já tem esquissado um plano para lançar borda fora a Grécia. Ele e
os companheiros, não sabem no que se vão meter. Os mercados que eles tanto
veneram, vão ser os primeiros a anunciar a morte do conjunto. A seguir vem o
caos, a deslocação geopolítica do actual esquema europeu, depois o
posicionamento da Rússia e da China, o referendo inglês e por aí fora até à
hecatombe final de um projecto que tinha tudo para ser excelente, não fora a
ambição desmedida de uns e o esquecimento de todos de que as nações são antes
de mais os povos que as compõem.
- Pode parecer deslocado o que vou dizer: a obsessão dos muros como
defesa contra a invasão das gentes acossadas pela fome e pela guerra não é
estranha o actual estado da Europa. Israel, Tunísia, Cisjordânia, Chipre, Hungria
e um ou noutro país entretanto chegado à União Europeia levantaram barreiras de
vários quilómetros como protecção contra assaltos pacíficos de pessoas
desesperadas, esquecidas e exploradas pelo mundo favorecido de riquezas
excessivas e concentração de fortunas em meia dúzia. Este problema deixou de
ser específico dos países pobres ou em guerra, para ser um drama que a todos
pertence precisamente porque a riqueza produzida não pode ser propriedade
exclusiva de uns quantos que desviam a cara da miséria humana que eles ajudaram
a cavar quando se aproveitaram de mão-de-obra barata, recursos e matérias-primas,
tendo como centro do progresso contínuo a exploração ilimitada de meios para
abastecer a sociedade de consumo sempre insaciável. A Europa do euro que foi
efectivamente uma catástrofe, nunca devia ter existido nos moldes em que a
conhecemos, porque desarrumou as independências, criou desconfiança, cliques
partidárias, fobias de vária ordem, atribuiu poder a um eixo que tem sabido tirar
proveito do todo, aumentou impostos, desemprego, destruiu especificidades,
criou um monstro, instabilidade psicológica, financeira e económica e,
sobretudo, nunca se submeteu ao voto popular. Foi um embuste quando comparado
com tudo o que nos prometeram.
- Quando saio de casa pela manhã a caminho de um lugar fresco onde possa
trabalhar, tenho a sensação de uma nitidez absoluta, que madame Juju me espera
algures num lugar sossegado e agradável, ultimamente a zona de restaurantes do
Alegro, em Setúbal.