quinta-feira, julho 09, 2015

Quinta, 9.
Espectáculo vergonhoso ontem no Parlamento Europeu com algumas verdades como socos atiradas à cara de Tsipras. Todavia, os dados estão lançados. Jean-Claude Juncker disse que a Europa dos gananciosos já tem esquissado um plano para lançar borda fora a Grécia. Ele e os companheiros, não sabem no que se vão meter. Os mercados que eles tanto veneram, vão ser os primeiros a anunciar a morte do conjunto. A seguir vem o caos, a deslocação geopolítica do actual esquema europeu, depois o posicionamento da Rússia e da China, o referendo inglês e por aí fora até à hecatombe final de um projecto que tinha tudo para ser excelente, não fora a ambição desmedida de uns e o esquecimento de todos de que as nações são antes de mais os povos que as compõem.

         - Pode parecer deslocado o que vou dizer: a obsessão dos muros como defesa contra a invasão das gentes acossadas pela fome e pela guerra não é estranha o actual estado da Europa. Israel, Tunísia, Cisjordânia, Chipre, Hungria e um ou noutro país entretanto chegado à União Europeia levantaram barreiras de vários quilómetros como protecção contra assaltos pacíficos de pessoas desesperadas, esquecidas e exploradas pelo mundo favorecido de riquezas excessivas e concentração de fortunas em meia dúzia. Este problema deixou de ser específico dos países pobres ou em guerra, para ser um drama que a todos pertence precisamente porque a riqueza produzida não pode ser propriedade exclusiva de uns quantos que desviam a cara da miséria humana que eles ajudaram a cavar quando se aproveitaram de mão-de-obra barata, recursos e matérias-primas, tendo como centro do progresso contínuo a exploração ilimitada de meios para abastecer a sociedade de consumo sempre insaciável. A Europa do euro que foi efectivamente uma catástrofe, nunca devia ter existido nos moldes em que a conhecemos, porque desarrumou as independências, criou desconfiança, cliques partidárias, fobias de vária ordem, atribuiu poder a um eixo que tem sabido tirar proveito do todo, aumentou impostos, desemprego, destruiu especificidades, criou um monstro, instabilidade psicológica, financeira e económica e, sobretudo, nunca se submeteu ao voto popular. Foi um embuste quando comparado com tudo o que nos prometeram.  


         - Quando saio de casa pela manhã a caminho de um lugar fresco onde possa trabalhar, tenho a sensação de uma nitidez absoluta, que madame Juju me espera algures num lugar sossegado e agradável, ultimamente a zona de restaurantes do Alegro, em Setúbal.