Quarta, 8.
O cérebro é uma máquina assombrosa.
Aconteceu que esta madrugada num sonho leve, estive no buraco minúsculo da casa
das máquinas onde trabalhava José Gomes Ferreira e onde conheci aquela que
Costa apelida de “mãe do PS” (se o ridículo pagasse imposto a dívida estava
liquidada com o putativo primeiro-ministro). Revi a entrada do edifício na
Avenida da Liberdade, as escadas estreitas que me levaram ao encontro do poeta com
quem havia combinado na véspera uma entrevista. Assim que pus os pés no chão,
corri ao computador com o pressentimento que algo estava errado no meu
apontamento de ontem De facto tinha trocado o cinema Tivoli pelo teatro S. Luís
que me apressei a corrigir.
- São justas as homenagens a Maria Barroso. Só acho excessivas e oportunistas
algumas das declarações dos políticos e camaradas. Espero que a ilustre cidadã
tenha deixado em testamento que recusa a ponham no Panteão Nacional dada a
banalidade em que o transformaram. É verdade que ele é um mastodonte de fealdade
insuportável, mas respeitem ao menos a função para que foi criado. Não o
transformem num mausoléu de futebolistas e de individualidades que se pudessem
escolher nunca aceitariam a eternidade naquele sarcófago de ídolos ditos “do
povo” ali depositados por consenso dos senhores deputados.
- Tudo leva a crer que a Grécia vai ser enxotada da União Europeia. À
União não interessa os dois por cento de contribuição para a riqueza dos
grandes que o país oferece. Estes querem países e povos mansos, de crinas
baixas, que trabalhem como escravos para enriquecer meia dúzia. A pouco e pouco
a UE vai ficar reduzida a três ou quatro países que entre si formarão um acordo
económico tendo o euro por moeda corrente – e assim é que tem lógica.
- A Maria Luísa, ontem: “Só desejo morrer o mais depressa possível.”
Trágico. Todavia, eu, talvez insensatamente, continuo a pensar que a velhice
não é o desastre que todos lhe apontam.