domingo, julho 05, 2015

Domingo, 5.
A Espanha como de resto Portugal, está a pouco e pouco a resvalar da democracia para um regime que mantém o nome, mas está próximo de um governo musculado. Aqui ao lado, os espanhóis saíram à rua contra a política da mordaza que quer intervir nas manifestações de rua como na internet. A política está transformada numa actividade sinistra, que ninguém percebe, mas cujas bases de uma forma general são as dos regimes ditatoriais. Isto porque, agrupada a Europa num sistema centrado numa cápsula de contabilistas, incultos e desumanos, pretende retirar aos cidadãos a capacidade de pensar, criticar, bater-se por o confisco da sua identidade num contristo que toca a todos.

         - A ver vamos o que sai hoje da Grécia. Depois de semanas do Eurogrupo em campanha contra o Não, torcendo com relatórios estapafúrdios, chantagens e a expulsão do país do euro, bancos encerrados e falta de dinheiro líquido, vai ser precisa muita coragem aos gregos para distinguirem o trigo do joio. A austeridade tão querida a Bruxelas fez quase dois milhões de pobres como, de resto, aconteceu connosco onde vivem no limiar da pobreza já os mesmos milhões.     

         - Uma nota de humor acerca das locuções Oxi e Nai. Na Grécia, quando por lá andei aos baldões por todo o Peloponeso, tinha precisão por vezes de perguntar onde ficava isto e aquilo, como aí chegar, etc. Enganava-me sempre devido a um pormenor de pequena-grande monta que me esquecia de ter em conta: o povo quando quer dizer sim, abana a cabeça como se dissesse não e o oposto para  não. Conclusão: eu transformava-me numa barata tonta sem achar a saída.  

         - O trabalho da Justiça é imenso e desgastante. Não há dia nenhum que não rebente um processo de corrupção. Olho o Público e vejo: desconfiança no consórcio da TAP; prisão preventiva para 13 arguidos por suspeita de extorsão e ofensas à integridade física no mundo da noite, com um vice-presidente do FCP apanhado nas malhas do crime organizado; ao ex-ministro da Administração Interna, suspeito de envolvimento nos Vistos Gold, foi retirada a imunidade parlamentar; o Ministério Público fez buscas na Câmara de Loulé por causa do empreendimento de Vale do Lobo que envolve o hóspede 44 da cadeia de Évora; as terras expropriadas há 40 anos para construir o desenvolvimento na zona, segundo a nossa eléctrica hoje chinesa na forma da barragem de Sela, que a todos os infelizes pagou apenas quarenta contos, vão ser devolvidas aos seus legítimos donos. A barragem que ia criar emprego entre Minho e Monção não se fez e os agricultores vão receber os terrenos baldios que perderam todo o valor e vão exigir-lhes despesas avultadas para os recuperar. Este retrato mostra bem a forma como os nossos governantes tratam as pessoas e o seu obsessivo fascínio pelas obras de fachada e pelo que daí vem sub-repticiamente por debaixo da mesa.

         - Cuba, a velha Cuba de Fidel Castro, foi referenciada como o primeiro país que aboliu completamente a transmissão do vírus da sida mãe-filho. Por lá, o sistema de saúde é uma referência. Pobres, mas protegidos no essencial.

         - Sarkosy e Jospin que dois! Pobre França reduzida a pequenos ganguesteres de pacotilha. Longe vai a grandeza de De Gaulle.


         - Vencido o Canto II, muito extenso e pormenorizado do posicionamento da guerra por um vastíssimo conjunto de povos, apresentadas as razões para o confronto entre Aqueus e Troianos, num mundo imenso de almas distribuídas por um território fragmentado, Homero, em versos com asas, traduz a simbiose dos deuses e dos homens num confronto em igualdade de ambições e muitas vezes de força. Se os homens dependem dos deuses, estes sem os homens lutam entre si montados no mesmo ódio e sede de vingança dos mortais.