Domingo, 5.
A Espanha como de resto Portugal, está a
pouco e pouco a resvalar da democracia para um regime que mantém o nome, mas está
próximo de um governo musculado. Aqui ao lado, os espanhóis saíram à rua contra
a política da mordaza que quer
intervir nas manifestações de rua como na internet. A política está
transformada numa actividade sinistra, que ninguém percebe, mas cujas bases de
uma forma general são as dos regimes ditatoriais. Isto porque, agrupada a
Europa num sistema centrado numa cápsula de contabilistas, incultos e
desumanos, pretende retirar aos cidadãos a capacidade de pensar, criticar,
bater-se por o confisco da sua identidade num contristo que toca a todos.
- A ver vamos o que sai hoje da Grécia. Depois de semanas do Eurogrupo
em campanha contra o Não, torcendo com relatórios estapafúrdios, chantagens e a
expulsão do país do euro, bancos encerrados e falta de dinheiro líquido, vai
ser precisa muita coragem aos gregos para distinguirem o trigo do joio. A
austeridade tão querida a Bruxelas fez quase dois milhões de pobres como, de
resto, aconteceu connosco onde vivem no limiar da pobreza já os mesmos milhões.
- Uma nota de humor acerca das locuções Oxi e Nai. Na Grécia, quando por
lá andei aos baldões por todo o Peloponeso, tinha precisão por vezes de
perguntar onde ficava isto e aquilo, como aí chegar, etc. Enganava-me sempre
devido a um pormenor de pequena-grande monta que me esquecia de ter em conta: o
povo quando quer dizer sim, abana a cabeça como se dissesse não e o oposto para
não. Conclusão: eu transformava-me numa
barata tonta sem achar a saída.
- O trabalho da Justiça é imenso e desgastante. Não há dia nenhum que
não rebente um processo de corrupção. Olho o Público e vejo: desconfiança no
consórcio da TAP; prisão preventiva para 13 arguidos por suspeita de extorsão e
ofensas à integridade física no mundo da noite, com um vice-presidente do FCP
apanhado nas malhas do crime organizado; ao ex-ministro da Administração
Interna, suspeito de envolvimento nos Vistos Gold, foi retirada a imunidade
parlamentar; o Ministério Público fez buscas na Câmara de Loulé por causa do
empreendimento de Vale do Lobo que envolve o hóspede 44 da cadeia de Évora; as
terras expropriadas há 40 anos para construir o desenvolvimento na zona,
segundo a nossa eléctrica hoje chinesa na forma da barragem de Sela, que a
todos os infelizes pagou apenas quarenta contos, vão ser devolvidas aos seus
legítimos donos. A barragem que ia criar emprego entre Minho e Monção não se
fez e os agricultores vão receber os terrenos baldios que perderam todo o valor
e vão exigir-lhes despesas avultadas para os recuperar. Este retrato mostra bem
a forma como os nossos governantes tratam as pessoas e o seu obsessivo fascínio
pelas obras de fachada e pelo que daí vem sub-repticiamente por debaixo da
mesa.
- Cuba, a velha Cuba de Fidel Castro, foi referenciada como o primeiro país
que aboliu completamente a transmissão do vírus da sida mãe-filho. Por lá, o
sistema de saúde é uma referência. Pobres, mas protegidos no essencial.
- Sarkosy e Jospin que dois! Pobre França reduzida a pequenos
ganguesteres de pacotilha. Longe vai a grandeza de De Gaulle.
- Vencido o Canto II, muito extenso e pormenorizado do posicionamento da
guerra por um vastíssimo conjunto de povos, apresentadas as razões para o
confronto entre Aqueus e Troianos, num mundo imenso de almas distribuídas por
um território fragmentado, Homero, em versos com asas, traduz a simbiose dos
deuses e dos homens num confronto em igualdade de ambições e muitas vezes de
força. Se os homens dependem dos deuses, estes sem os homens lutam entre si
montados no mesmo ódio e sede de vingança dos mortais.