domingo, julho 26, 2015

Domingo, 26.
Tenho tendência a deitar-me para o lado onde sopra o vento. O vento nesta altura corre espontâneo para o fim do romance que me absorve todas as minhas faculdades e todos os minutos. Queria tanto debruçar-me sobre Homero e aquele clima de aventuras que enfuna as quinhentas páginas traduzidas por Frederico Lourenço. Gostava dizer dos motivos que levaram o mirmidão Aquiles a vingar a morte de Pátroclo. Mas falta-me tempo, ando com o cérebro arrasado, vivo entre sombras e reflexos de luz sem encontrar o equilíbrio onde umas e outros me possam proteger. Entrei, entretanto, no O Sofista de Platão. O longo estudo que ao autor consagra o meu estimado José Trindade Santos é denso, complexo, obrigando-me a ler lentamente, a tomar notas, a sublinhar. Um verdadeiro trabalho! Apeei-me, contudo, das páginas do filósofo grego, para desobstruir a minha caixa de correio electrónico respondendo por uma hora ao Robert, ao Guilherme Parente, ao Schneider, ao Banco, a um leitor que está a organizar um acontecimento sobre o cineasta Jorge Bruno do Canto e me pediu uma palavra.   


         - Sexta-feira dei um salto à CGD para uma reunião e de caminho visitei os meus artistas na Brasileira. Lá os encontrei a todos, submersos num mundo que não toca já (e ainda bem) este onde vegeta a maior parte dos portugueses. Entre nós, naquele happy end de todas as manhãs, é o desassossego que a liberdade toma quando nada a impede ombreie com a felicidade. Todos os disparates são permitidos, todas as censuras derramadas, todo o palavreado indecoroso despejado sobre os tampos de mármore habituados a reconhecer as vozes como as iras que as acompanham daqueles que depois de mais de um século fazem do café o cenáculo de preciosa e saudosa memória da má-língua. Começamos bêbados logo às primeiras horas do dia sem termos tocado numa gota de álcool. Dali foram eles  almoçar ao Polícia para aonde me queriam arrastar e eu ia de vontade, se não se desse o caso de ter combinado almoçar com a Inês na velha Trindade mais acima. A restolhada de saltimbancos que inunda o Chiado é a outra vida que se estende monótona, the same, por toda a Europa melancolizada do euro.