terça-feira, março 03, 2015

Terça, 3.
Ontem vi com interesse Prós & Contras dedicado ao tema do cérebro e do futuro que nos espera quando o desarrumamos. Algumas intervenções com informação curiosa, nomeadamente, quanto às novas drogas que podem ampliar e até introduzir aptidões de vária ordem no ser humano. O tema interessou-me sobremaneira porque veio na sequência da exposição de que aqui falei a semana passada. Pena que nenhum dos cientistas, médicos ou filósofos que antes da menina Judite puseram pés ao caminho para nos alertar para o futuro não muito distante que nos espera, tivesse sido convidado. Normalmente aquele programa que pretende encher o serão das segundas-feiras da RTP1, peca por demasiado extenso. Eu desligo à meia-noite e meia hora porque a partir daí os cérebros dos excelentíssimos cientistas, convidados e público presente fecham, embrulham-se no cansaço e não debitam nada de novo. Estive para intervir por mail, porque achei que o importante que me preocupa não foi ali sequer abordado: a ectogénese, o biformismo, a chamada boa eugenia, a possibilidade de um dia podermos ser descaracterizados para dar lugar a todas as loucuras que formarão a nova ética à medida dos manipuladores, do mercado, dos ditadores e da ciência exuberante que entrará na disputa entre nações ricas, dado que as pobres serão as cobaias da loucura dos cérebros inteligentes soprados como balões por génios construídos em laboratório.  


         - A Natureza interfere já com os humanos, dá-lhe safanões para os acordar da letargia do Inverno demasiado longo, pica-os com a seiva que derrama, perfuma-os com os bálsamos das flores, das árvores decoradas de muitos cambiantes, trava-lhes o passo para os plantar de olhos pasmados diante do esplendor que chega com a Primavera, obriga-os a abrir os pulmões ante o ar rarefeito das manhãs luminosas, das tardes embrulhadas nas primeiras poeiras do sol, do chilreio dos pássaros vindos de longe numa alegria estonteante que nos toca, nos sacode, nos extasia, o próprio timbre do silêncio é mais aberto, expande-se mais alto ou desce abrupto sobre o campo num murmúrio santo, espécie de liturgia sossegada, sem palavras, num vibrante quedo à hora de a noite se fechar e com ela todo o mistério que em cada ano transuda sobre a terra um hino ao Criador de todas estas maravilhas.