Domingo, 29.
Não sei se acredito em tudo o que vejo
atribuído ao infeliz co-piloto que matou 150 pessoas. A namorada veio dizer que
ele lhe tinha dito uma vez que ainda haveriam de falar dele no mundo inteiro.
Outra notícia fala de uma namorada grávida (não sei se será a mesma). Outra
ainda cita uma doença psicológica grave, ao ponto de ele estar de baixa e ter
escondido da companhia de aviação o seu estado. Como num romance há para todos
os gostos. Do que eu não ouço falar muito é da Lufthansa e das suas
responsabilidades e implicações na tragédia. O pobre tresloucado já cá não está
para se defender. Estamos nas mãos de Deus. Perante um mundo tão desgraçado,
uma época tão manipuladora, tão indiferente aos dramas pessoais de cada triste
incógnito que passeia descontraído pelo mapa dos conflitos diários, só o
aconchego divino nos reconforta e nos dá confiança em prosseguirmos o caminho
que Ele nos traçou. Penso em todas as famílias que legitimamente choram os
desaparecidos, e penso também na família do desditoso que está duplamente
exposta à dor.
- Imprevisto profundo abate ontem todo o dia que me levou à cama pelas
dez horas. Paralisia. Sonolência. Peso medonho na cabeça. Insatisfação.
Desistência. Absoluta aproximação à morte.
Um aceno de precipício. Um olhar turvo sobre os livros, os quadros, as
árvores, toda esta atmosfera que me envolve e que tenho a fraqueza de estimar. Sensação
de expirar no meio das ruínas de um mundo imaginário...