Sexta, 13.
Este capítulo exige de mim um grande
controlo, um finíssimo sentido da sensibilidade pura, devendo eu trabalhá-lo
como um médico opera com o bisturi. Se tiver que escrever uma só palavra por
dia assim farei, desde que a escolha do vocábulo não fira o mais remoto nervo
da narrativa.
- Descontrolado como tenho andado, acabei por entrar numa farmácia e
pedi para falar à farmacêutica. “Um momento que eu vou chamar a doutora”
disse-me o empregado. Daí a minutos tinha na minha frente uma rapariga fresca a
quem expus os meus males, do meu ponto de vista psicossomáticos relativos à
duradoura canseira de dois anos meio que levo de trabalho intenso no romance. Expliquei-lhe
os sinais, disse-lhe que já estava a tomar carvão vegetal, que me sentia
cansado do cérebro e dos nervos. Ela interessou-se pelo meu caso e demorou-se
em explicações, em pequenos conselhos e à despedida disse-me: “Mas olhe que a
escrita faz bem. – A escrita faz bem! – quase gritei. - Pois olhe não lha
recomendo se quiser ter mais uns anos de vida.”