Quarta, 4.
É impressionante a política e sobretudo
os políticos. Não dá para entender e muito menos para respeitar. A incrível
facilidade e ligeireza como eles nos tomam por parvos, pensando que temos a
memória curta e a inteligência afectada por uma qualquer amnésia que limpa dos
nossos neurónios os registos das suas incongruências, da sua liderança, das
suas falcatruas e do seu longo rosário de mentiras, atropelos às leis, jogos de
poder, intriga, corrupção, roubos, até o despir a pele em público e toda a
sorte de malvadez que nos arrepia, confrange e revolta. Um político não é um
tipo normal. Não pode ser. É uma espécie de monstro sem coração nem alma, sem
sentimentos nem estados de espírito próprios dos humanos, de algum modo um
frustrado, um bicho que vive numa toca dourada, rodeado dos mafiosos pares, a
coberto da luz que irradia felicidade e saúde física e mental. Se for
português, não sendo diferente dos estrangeiros, acumula em doses maciças a
estupidez em estado puro, o sentido refinado do oportunismo, a exuberância do
pacóvio, a aparência do lorpa e as bochechas do camponês das sombras tocado do
álcool e dos torresmos. Baixote e barrigudo, distingue-se na galeria dos seus
colegas por aquele que exibe o sorriso mais idiota e o porte arrogante do chico
esperto.
- Evidentemente, um país com esta plêiade de homens só pode oferecer aos
cidadãos o desastre, a gargalhada e o choro convulsivo. De repente, os
iluminados do PS, varrendo da sua história o mandão dos dias dos festejos
carnavalescos, recambiado para a prisão, correram a confessar ao cardial de
Lisboa os seus pecados infinitamente mais chorudos que os do primeiro-ministro
no tocante à querida riqueza ilícita, e atiraram-se a Passos Coelho porque o
homem se esqueceu, não ligou, foi laxista no dever sacrossanto de levar ao
Estado gastador os lucros do seu modesto trabalho, no montante de uns ridículos
4 mil euros, uma gorjeta quando comparados com os milhões que eles acumulam em
contas cá e lá fora, em pouco mais de quarenta anos de festa rija. Como se
Portugal fosse governado da direita à esquerda por gente honesta e competente.
Basta abrir a televisão, consultar um qualquer jornal neste momento para se ter
o registo do país, nascido de uma revolução de flores depressa assaltada por
uma casta de gente oportunista que aprendeu rápido e eficazmente como roubar,
traficar influências, fazer de cada cidadão um escravo e do país a quinta que a
família pobre nunca lhe pôde dar. Leio as notícias de hoje que não são
diferentes das de ontem, de há oito dias, de há dez anos, de há quarenta anos:
um antigo inspector da Polícia Judiciária, vice-presidente de um clube de
futebol (claro), escritor (oh, pois então), foi preso por assaltos violentos a
casas e pessoas; um ex-ministro da Saúde está a ser julgado por ligações ao BPN
pelo o qual recebeu 80 milhões ilícitos e passo. Por isso, as ligações de
Passos Coelho à Tecnoforma, o dinheiro ganho com negócios fuscos como relatou
Helena Roseta, agora os descontos para a Segurança Social que prescreveram para
ele e não para milhares de outros cidadãos de segunda, tudo isso é uma gota de
água no oceano turvo da política no nosso infeliz país.
- Acaba de chegar o cuco! Aleluia!