quinta-feira, março 26, 2015

Quinta, 26.
As dúvidas que andavam no ar relativamente ao voo da Germanwings que se estatelou nos Alpes franceses, dissiparam-se sob a forma inusitada de um crime. Ouvidas as “caixas negras” do avião, estão lá registados os momentos que antecederam a descida vertiginosa para a morte. O seu autor: o co-piloto, de 28 anos, de nacionalidade alemã. Enquanto o comandante deixou por instantes o cockpit, ele trancou a porta por dentro e com incrível sangue frio premiu o botão do precipício levando consigo 150 passageiros de várias nacionalidades. A um mistério segue-se outro: que razões o levaram àquele acto extremo, quem era ele, às ordens de quem escolheu morrer e levar para o desconhecido tanta gente inocente?


         - Muitas questões são agora objecto de análise. Sobretudo após o 11 de Setembro, sob pressão dos americanos e contra o parecer dos pilotos, as leis da aviação foram mudadas. Por exemplo a que adoptou o isolamento dos comandantes e co-pilotos na cabina. Percebeu-se por este crime que quem tinha razão em não querer adoptar tal regra, eram os profissionais da aviação. Este acto trágico só foi possível porque o co-piloto trancou o dispositivo ao seu alcance e impediu que o seu colega acede-se ao cockpit, não obstante a tentativa deste para arrombar a porta. Mais. A ganância em ganhar mais e mais aligeirou as responsabilidades. As companhias aéreas desistiram de investir nos profissionais preferindo as tecnologias que um dia levarão centenas de milhares de passageiros comandados por um simples botão. Dizia não sei quem, que o alvo dos accionistas é que siga apenas um comandante. Sai mais barato e os passageiros que se lixem, são gado que vão para abate. Razão tinha o meu saudoso amigo Jean-Paul quando me dizia do alto da sua competência, que nunca viajaria em low cost e o que via acontecer nas companhias de pedigree, não era diferente das dos comichosos. Pela minha parte, há anos que não opto pelas low cost. Prefiro pagar um pouco mais a ser tratado como ovelha tresmalhada. Dir-me-ão: uma loucura destas pode acontecer em qualquer empresa. Eu interrogo-me: pode?