Quinta, 26.
As dúvidas que andavam no ar
relativamente ao voo da Germanwings que se estatelou nos Alpes franceses,
dissiparam-se sob a forma inusitada de um crime. Ouvidas as “caixas negras” do
avião, estão lá registados os momentos que antecederam a descida vertiginosa
para a morte. O seu autor: o co-piloto, de 28 anos, de nacionalidade alemã.
Enquanto o comandante deixou por instantes o cockpit, ele trancou a porta por dentro e com incrível sangue frio
premiu o botão do precipício levando consigo 150 passageiros de várias
nacionalidades. A um mistério segue-se outro: que razões o levaram àquele acto
extremo, quem era ele, às ordens de quem escolheu morrer e levar para o
desconhecido tanta gente inocente?
- Muitas questões são agora objecto de
análise. Sobretudo após o 11 de Setembro, sob pressão dos americanos e contra o
parecer dos pilotos, as leis da aviação foram mudadas. Por exemplo a que
adoptou o isolamento dos comandantes e co-pilotos na cabina. Percebeu-se por
este crime que quem tinha razão em não querer adoptar tal regra, eram os
profissionais da aviação. Este acto trágico só foi possível porque o co-piloto
trancou o dispositivo ao seu alcance e impediu que o seu colega acede-se ao cockpit, não obstante a tentativa deste
para arrombar a porta. Mais. A ganância em ganhar mais e mais aligeirou as
responsabilidades. As companhias aéreas desistiram de investir nos profissionais
preferindo as tecnologias que um dia levarão centenas de milhares de
passageiros comandados por um simples botão. Dizia não sei quem, que o alvo dos
accionistas é que siga apenas um comandante. Sai mais barato e os passageiros
que se lixem, são gado que vão para abate. Razão tinha o meu saudoso amigo
Jean-Paul quando me dizia do alto da sua competência, que nunca viajaria em low cost e o que via acontecer nas
companhias de pedigree, não era diferente das dos comichosos. Pela minha parte,
há anos que não opto pelas low cost.
Prefiro pagar um pouco mais a ser tratado como ovelha tresmalhada. Dir-me-ão:
uma loucura destas pode acontecer em qualquer empresa. Eu interrogo-me: pode?