Sábado, 7.
Eu compreendo Passos Coelho e de tudo o
que tenho lido, só me revolta o facto de durante anos que dirigi empresas
sempre ter ouvido dizer que as dívidas à Segurança Social nunca prescreviam. Quanto
ao mais, fui como ele, sou como ele. Nunca liguei nem compreendi as sucessivas
mudanças das leis depois do 25 de Abril, como se os senhores deputados não
tivessem mais nada que fazer ou quisessem justificar as mordomias e os altos
salários mudando-as quotidianamente. A minha cabeça andava ocupada em
trabalhar, em ter ideias todos os dias, em fazer avançar as coisas. Da parte
contabilística ocupava-se o técnico sem que eu quase passasse os olhos pelos
balanços. Como disse nunca fui bom em números, em papelada, em servilismos.
Vivi e continuo a viver a vida aos tropeções, sem nunca ter pertencido a
ninguém (salvo o tempo do jornalismo), contando apenas comigo. Sei quanto custa
ser independente, não pertencer a nenhum clube de futebol, partido, congregação
ou mafia. Acresce que estou ab-so-lu-ta-men-te convencido que uma boa parte dos
deputados e políticos e gestores, banqueiros e presidentes disto e daquilo, fez
ou faz o mesmo que o actual primeiro-ministro, embora com outros valores, muito
superiores ao que os chefes partidários reclamam a Passo Coelho. A seu tempo se
saberá. Por outro lado, esta maneira de fazer política é tigrina. Não ouço uma
ideia, um projecto, uma visão de futuro, uma união de esforços. O que vejo é
fazer oposição com a única preocupação de atirar borda fora quem está no poder.
Política em Portugal é isto, é esta miséria individual e colectiva, este
confrangedor murmúrio de ódio, de confrontos pessoais, de ver quem é mais impoluto
sendo todos iguais em merdelhice e gamanço. Somos um país de funcionários, de
gente que vive à sombra do Estado, medíocres amesendados à manjedoura pública
ou patronal, para quem o salário ao fim do mês é o mais importante a seguir à
vidinha familiar com todos os condimentos básicos que a rotina empobrece. Por
isso, os portugueses aceitam esta comédia da oposição, incapazes de pensar pela
sua própria cabeça, e por languisse deixam-se atolar no lodo da classe
dirigente.