Sábado, 14.
O Estado e quando falo em Estado quero
dizer o Governo, quer trazer de volta a Portugal aqueles que ele expulsou com
desprezo pela dignidade de cada um, prometendo incentivos económicos. Que
falcatrua! Eu sei que os portugueses são sentimentalões e agarrados ao torreão
familiar, mas é ignorar que em contacto com outras mentalidades, formas de
governação e aquisição cultural e social, quererão voltar ao reino do laxismo,
da corrupção, do eternamente problemático e dependente mundo disto e daquilo,
daquele e daqueloutro. Recomeçar a vida de novo aqui, com os mesmos dirigentes
políticos, as mesmas políticas, o mesmo estratagema económico, o mesmo patuá
salvador para consumo de incultos, de pacíficos seres encostados às benesses
deste e daquele, a cabeça deitada no colo da mamã, é retornar aos mesmos
sacrifícios, aos mesmos prantos, à mesma ladainha dos infelizes sem eira nem
beira.
- Ontem houve mais uma greve dita da função pública. Hospitais, centros
de saúde, escolas, empregados do lixo, finanças, tribunais responderam à ordem
das duas centrais sindicais e desarranjaram milhares e milhares de pessoas em
todo o país. No fim do dia vieram as percentagens: do lado dos sindicalistas a
coisa rondou os 80 por cento, do lado do Governo andou pelos 50 por cento. A
democracia foi cumprida, mas ninguém percebeu em que medida. E deste modo pode
seguir a festa com satisfacção de uns e descontentamento de outros.
- O ministro das Finanças alemão, tratou esta semana o seu homólogo
grego de “tonto ingénuo”. O nosso Vasco Pulido Valente disse praticamente o
mesmo e Passos Coelho falou num contador de histórias para crianças. O facto é
que Varoufakis é um homem competente e conhecedor. A guerra entre a Grécia e a
Alemanha radica um pouco mais atrás e a Grécia não desistiu de pedir à Alemanha
o pagamento de compensações pelos crimes e destruição nazi na II Grande Guerra. Eu admiro os dirigentes do Syriza. São heróicos e talvez um pouco românticos. É
a história de David e Golias dos tempos presentes.
- Claro que esta gentalha que diz possuir a experiência governativa que
exige aos mais novos, nós, isto é, aqueles que pretendem uma mudança profunda,
estamos fartos da sua competência e inteligência que é a causa que nos arrastou
para o lodaçal em que se encontra a Europa e o mundo. É também a forma encontrada
pelos sabichões de impedirem que outros com outra forma de fazer política
venham ocupar os seus lugares. Arregimentados numa mafia de círculo, pensam que
nunca serão apanhados na malha da justiça. Uns encobrem os que metem a mão no
saco mais facilmente quando se está no poder; outros esperam ao largo pela
distribuição do produto. É a técnica da ladroagem que assalta bancos, casas e
assim.
- Em
verdade não precisamos da sua democracia para nada. É um nojo, um abcesso
aberto nas nossas vidas. Atente-se no escandaloso caso da “lista VIP” de
contribuintes existente nas Finanças. Segundo o sindicato dos Trabalhadores dos
Impostos, o actual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, com
aquele seu ar de bebé Nestlé, foi o arquitecto do monstro. A lista dos privilegiados
é constituída por gente da área política, financeira e económica e surgiu na sequência
do célebre caso Tecnoforma. Estes mafiosos se possível for, matam a mãe para
conservar o poder que a democracia impede ser eterno. Por causa deste crime, já
foram condenados muitos funcionários das Finanças que ousaram consultar as informações
fiscais desta pandilha.