terça-feira, dezembro 27, 2022

Terça, 27.

António Costa na sua homília de Natal, garante que o país está a salvo “das turbulências do passado”, mas nada disse das do presente que só se saberão quando sua excelência deixar o poder a caminho dum cargo chorudo na UE ou de um banco americano (como o seu congénere espertalhão de sorriso pateta. Costa é, contudo, mais prò cínico e de sorriso simpático).   

         - E de facto. Muito tem o homem feito para construir um país equilibrado. Que o digam os números. Os mais ricos estão 5 vezes mais abastados. O pior é que quando os ricos insuflam, os pobres encolhem ainda mais tomados pelo desespero.

         - Em todos os aspectos. Veja-se aquele infeliz a quem foi dada autorização de abandonar a cadeia para se juntar aos seus no Natal. A noite de consoada, passou-a a vingar-se dos vizinhos, furando os pneus a mais de 100 carros na zona de Coimbra. Este é um exemplo típico que escapa aos políticos e define bem o estado social em que se encontra o país. Na obstinação pelos números e pelo enriquecimento, descobre-se o lençol psíquico e social de uma sociedade perturbada, abandonada, sofredora, miserável.  

         - Eu fui dos que advoguei uma atenção especial aos novos talibãs do Afeganistão. Fui longe demais. Aquilo é uma seita de furibundas e obstinadas criaturas. Que se pudessem controlar o gene, teriam um país de homens, apenas. Vem isto a propósito do perfeito desprezo que os novos dirigentes têm pelas mulheres, impedindo-as de ir à escola, de viver como querem, ocultadas em casa. Daí que os anteriores chefes talibãs, preferissem os meninos às meninas; cada um com um ou mais favoritos. Estes, mais modernos e decerto conhecedores do mundo, seguem-lhes os passos. 

         - Os Estados Unidos continuam debaixo daquilo a que chamam “ciclone bomba”. Os termómetros desceram a 40 graus negativos, cidades inteiras sem electricidade, a vida paralisada, neve com dois metros. Até à data morreram pelo menos 60 pessoas, algumas delas faleceram de hipotermia dentro dos seus automóveis. Dizem que é uma morta santa, mas eu não estou tão certo disso.  

          - Quem também morreu, foi António Mega Ferreira. Conheci-o assim como a muita gente que privou com ele, nomeadamente, João da Palma-Ferreira. Os elogios fúnebres ao homem – romancista, poeta, gestor, director disto e daquilo – chegam de todos os quadrantes; mas o verdadeiro Mega Ferreira a poucos se deu a conhecer. Nada do que ouço tem a ver com o ser que ele era: uma camada espessa – a verdadeira – escondia a sua natureza. Somos intensos no vazio dos elogios post mortem. A verdade é que ele disse que gostaria de ser recordado como escritor, romancista não será porque viveu demasiado preocupado em o ser. Paz à sua alma.