domingo, dezembro 25, 2022

Domingo, 25.

É surpreendente e ao mesmo tempo típico do tempo presente, o assalto que dois alunos de 14 e 15 anos fizeram á escola Camilo Castelo Branco, em Carnaxide. As imagens mostradas na TV com salas de aula, WC, computadores, corredores, átrios completamente destruídas, inclusive com sanitas partidas, num cenário apocalíptico onde nada escapou e o conjunto do edifício parece que nele explodiu uma bomba. Espero que as autoridades sejam implacáveis e não venham com aquela dos coitadinhos vítimas da sociedade e assim. Lamento a situação dos pais dos jovens, mas o que estes delinquentes fizeram não pode ser desculpado nem ficar impune. 

         - Os EUA atravessam um Inverno como há muito não se via. As temperaturas já baixaram até aos 20 graus negativos, mas os meteorologistas dizem que vão tocar os 50. Nada de novo. Julien Green que viveu o período da Segunda Guerra nos Estados Unidos de onde era oriundo, fala em invernos com os mesmos valores climáticos. 

         - Longa conversa de muitas horas com o Nuno. Tentei ajudá-lo a orientar o seu talento no sentido da estabilidade profissional, percebendo que está fora dos seus horizontes entregar-se a uma empresa e fazer carreira desse modo. Ele ambiciona ser free-lancer, com todas as consequências que a escolha implica. Prometi falar à Marília e ao filho, ambos arquitectos, a ver o que se pode fazer para que o rapaz possa acalcanhar o futuro que tanto ambiciona.  

         - Fui ao Continente comprar o Público. A chefe máxima que me conhece, e ante a loucura de clientes ávidos, dispara: “Ainda dizem que não há dinheiro!” Assim era no período negro no tempo de Cavaco Silva, com a crise de desemprego que se abateu sobre Setúbal. Nessa altura, tendo chegado havia poucos meses a esta região, tinha o hábito de almoçar e jantar muitas vezes na cidade sadina. Os restaurantes, cafés, esplanadas, supermercados estavam sempre a abarrotar. E toda a gente perguntava: “Mas onde está a crise que não a vemos em lado nenhum!” Eu, por brincadeira, respondia: “Perguntem ao bispo vermelho.” 

         - Confrontos curdos em Paris. De entre os três mortos, figura uma defensora dos direitos curdos. Carros incendiados e caixotes do lixo, montras partidas, choque corpo a corpo com a polícia. Na base de todo este desassossego, parece estar a mão de Erdogan, daí que Macron se tenha colocado ao lado os imigrantes que vivem numa zona perto da Place de la Concorde onde eu o ano passado jantei com a Françoise... sem tumultos. Esta disputa vem de longe. Já há alguns anos quando visitei a Turquia, era proibido questionar sobre a condição dos curdos. 

         - Todas estas últimas noites, melhor dizendo, madrugadas assailli de pensées charnelles. Que se passa, rapaz! Envelheces ou não? Despacha-te. Olha que a velhice é um longo período do repouso de todas as tentações. Um instante de luz crua derramada sobre as memórias que recusam ausentar-se para sempre, um profundo desejo da liberdade, enfim, alcançada. Olhar a beleza, os corpos belos, e dizer: “tudo isto já era” sem amertume, com a distância que a pacificação traz e os sentidos vergados de respeito, aceitam. Sem dor nem mágoa – dominados, simplesmente.   

         - Ainda eu por vezes penso que não tenho amigos! Não me devo enganar se disser que pelo duas dezenas deles tiveram a lembrança de me telefonar a desejar boas-festas. Homem de Deus, sê reconhecido. A mensagem mais curiosa na língua criada para crianças, veio da Mai Hong: “Chúc giáng sinh vui vê.”