quinta-feira, dezembro 29, 2022

Quinta, 29.

O João quis associar-se na visita a Armanda Passos. Como ele é entendido em transportes públicos, encosto-me ao seu conhecimento e sigo pelas ruas da cidade deslumbrado e surpreendido com as transformações que vou descobrindo. O nosso já conhecido 727, parte da Av. de Roma e atravessa a malha urbana, passando pelos lugares onde  deixei a minha dissoluta juventude. Chegámos a Belém hora depois e aí tomámos um táxi para a Fundação Champalimaud. Onde nos demorámos outra hora a ver a obra de uma pintora original, solitária, impregnada das cores que são por si só o cartão de visita de uma das melhores artistas nacionais. Armanda Passos trilhou os caminhos da arte alheia a modas, senhora do domínio da cor como poucos pintores, sem discursos morais ou políticos, retratando a mulher enquanto estudo permanente de uma obsessão que a elevou aos cânones da liberdade absoluta. Na galeria somos surpreendidos por paredes ao correr das quais se sobrepõem dípticos e trípticos, num conjunto encandeado de cor, luz, animação, com personagens deformadas, olhares interrogativos e expressões ora cómicas, ora profundamente amarguradas, rostos em espanto, em dúvida, em dor, que nos inquietam e interrogam, como se todo aquele mundo viesse de uma galáxia formada por mulheres com pés e mãos deformadas, peixes a desprenderem-se de corpos gordos, com rostos sublimes, onde não entra uma só figura masculina. Não há propriamente uma história, uma ideia, um prenúncio de coisa alguma que não seja a imposição da cor falando pelos modelos, agitando mares de silêncios, e fazendo-nos parar, pasmados, ante aquele mundo secreto que inventa desejos, afaga dores, ao mesmo tempo que nos impregna de uma felicidade terna, que desperta em nós sentimentos fofos, quase infantis, uma espécie de delírio íntimo, de conforto, de airosidade ante a Mulher enquanto terreno de todos os afectos. Não parto sem um reparo à excelente exposição, à forma como o conjunto pictórico foi disposto, a luz, a luz que ajuda a olhar as telas com a atenção e o prazer que elas merecem, a subsequência das obras a impelir o visitante a compreender a artista no seu todo. 





         - Nuno Santos, o homem da esquerda do PS, ministro que tutelava a TAP, demitiu-se. Todo o imbróglio que o levou à demissão, está ainda por conhecer enquanto peça fundamental de um Governo que está putrefacto, nauseabundo, execrável. Vivemos sob o domínio  de um bando de malfeitores, mafiosos, salteadores do erário público. A TAP é apenas uma peça dessa engrenagem de senhores feudais, que gastam os impostos que pagamos com língua de fora, em seu proveito. Esta história tem quilómetros de histórias que é imprescindível deslindar. Com o país de cofres cheios, dinheiro a entrar de todo o lado, é evidente que todos estão engalfinhados a ver quem saca mais. Já se fala em eleições antecipadas. Não concordo, isso era dar a António Costa aquilo que a maioria lhe recusou: um qualquer cargo na UE. 

         - Curioso, ontem, à mesa do restaurante, eu quase me engalfinhei com o Corregedor, quando ele, na sua disciplina partidária, dizia que o ministro das Infra-estruturas que tutela a TAP, não sabia dos ordenados milionários praticados na empresa falida. E quando eu disse que, se fôssemos um país democrático e credível, Pedro Nuno Santos e a senhorita que fala inglês com sotaque francês, já tinham sido demitidos, quase fui agredido. O pessoal que assistia à disputa, veio ter comigo dizendo que eu estava demasiado enervado e tinha de ter calma. Como se eu não conhecesse o ninho de mentirosos e conluios sinistros que suportam os partidos.