terça-feira, dezembro 20, 2022

Terça, 20.

Ainda o Mundial de Futebol. Não percebendo eu nada do assunto, mas tendo achado graça aquela cena dos penáltis que ditariam o vencedor, e tendo o hábito de estudar quem se me apresenta olhando atentamente para o rosto e, sobretudo, para o olhar, acontece que acertei em todos os meus vaticínios. Naquele plano em que se via o tronco do jogador e no seu balanço ou hesitação facial, eu ia dizendo: “este falha, aquele marca” e no final não errei um. 

         - O tempo corre veloz, mas não me arrasta com ele. 

         - A Câmara de Setúbal vai recuperar o controlo da água ao domicilio que a autarquia PS havia entregado de mão beijada aos privados há 25 anos, com os respectivos custos e transtornos para o munícipes. O PCP no seu melhor. 

         - Enquanto esperava para ser atendido pelo Dr. Cambeta, mexendo na minha mochila, encontrei o número da revista Visão com o dono disto tudo na capa. Para fazer tempo, fui lendo esta página e aqueloutra, e às tantas fui deitar a revista no caixote do lixo, danado, disse: “basta de tanta pesporrência”.  

         - Almocei no Vitta Roma (bem). Hoje o restaurante estava mais cheio e os empregados brasileiros tinham um sorriso ainda mais aberto que o habitual. Um deles, esguio, um corpo de serpente irrequieta, um rabinho pequeno, bem desenhado, ao jeito do dos jovens africanos, amparado por duas coxas que pareciam frágeis, rosto romano, nariz adunco, sobrancelhas bem desenhadas, distribuía gentileza indiferentemente a mulheres ou homens, sempre numa corrida que viajava no espaço ao sabor do rumor das vozes que o solicitavam. Mas quando o desassossego amainava, encostava-se ao balcão e partia para um lugar que só ele conhecia o nome, de olho nos clientes mas tenho a certeza sem os ver. A patroa acordava-o dando-lhe ordens para acudir a este ou àquele freguês que espreitou e desapareceu. Curioso como sou, pus-me a imaginar a sua vida, os seus desejos íntimos, a forma como se entrega ao prazer, o sussurro de cada movimento, nas horas tardias do cansaço, num qualquer lugar de passagem, desconfortável, apesar de tudo mais bem pago que no Brasil, onde o salário mínimo ronda os 240 euros mensais. Eu se estivesse no seu lugar, apagava o sorriso do rosto e entregava-me ao sonho de um dia vir a ser futebolista... 

         - Nunca vi tanto caracol. Este ano são aos milhares por todo o lado e entram pelas frinchas das janelas e portas e instalam-se nos vidros como pequenas peças de decoração. Tenho dias que recolho duas mãos cheias para os atirar casa fora.