sexta-feira, dezembro 30, 2022

Sexta, 30.

Mais uma prova que fomos abandonados e entregues à prepotência e ronceirice do funcionalismo público e de algum privado que sabe que o Governo não lhe toca. Um dia desta semana, meti pés ao caminho e fui ver o que se passava com a minha carta de condução, volvidos três meses de ter caducado e sete de haver pedido a sua renovação. Quando encontrei o IMT de Setúbal, deparei com uma fila de gente encostada às paredes dos prédios, numa espécie de cobra que contornava vários edifícios. Dirigi-me a um polícia que ali mantinha a ordem e este disse-me que era melhor voltar no dia seguinte cedo. Depois vendo-me afastar no meu trote airoso, voltou-se e disse: “Espere. Você tem sorte porque tem prioridade.” Ri-me. E ele muito atrapalhado: “Desculpe, o que eu queria dizer é que entre no edifício e tire a senha de prioridade.” Assim fiz e uns cinco minutos de espera, numa sala a abarrotar de gente, sem janelas, ninguém de máscara, fui chamado. Venci a ventana de vidro que separava suas excelências os funcionários da massa inquieta e barulhenta do público. Sentei-me em frente a uma mulher de uns trinta e poucos anos, protegida por um para-vírus, e expus-lhe ao que vinha. Ela riu-se, levantou-se, foi lá atrás e voltou daí a segundos vitoriosa com o envelope que continha o tesouro perdido. Depois de ter assinado o documento comprovativo da entrega, disse-lhe: “Você não imagina como fomos abandonados. Os CTT devolveram a carta sem me contactarem nem deixarem aviso para a ir levantar aos correios.” Foi quando ela me ofereceu as provas do que tinha acabado de afirmar, na forma do envelope devolvido com indicação que ninguém estava em casa e mais outra folha anotada pelos próprios serviços que provavam a minha queixa. Na despedida ainda lhe disse: “Não é só aqui que as coisas estão mal, é por toda a administração pública.” Resposta: “Paguem-nos melhor e tudo muda.” Respondi (parafraseando Álvaro Cunhal) olhe que não, olhe que não. Aos juízes o Estado aumentou os vencimentos em 700 euros/mês e daí a pouco tempo uns quantos foram condenados por sentenças pagas por debaixo da mesa. Arregalou os olhos e desejou-me bom ano. 

         - A choldra governamental não tem paralelo com nenhum outro governo pós-25 de Abril. O Público que é uma grande capoeira onde cada galo canta até de madrugada e ao seu modo, levanta um coro de simpatizantes de Nuno Pedro Santos, amparando-o já para novos e epopeicos voos. A começar por o elevar a futuro primeiro-ministro, elogiando o seu trabalho na TAP, na ferrovia e até nas casinhas (não chegou a uma por mês) para os pobrecitos. Afirmam que como deputado, vai enfrentar o pároco e o sacristão na Assembleia e daí preparar o assalto ao partido. Os trabalhadores da TAP e os outros, devem contorcer-se de riso, eles que o gramaram em dose prepotente e desafiadora dos seus direitos. A TAP um coito de sugadores do erário público, quero dizer dos nossos impostos, onde os administradores ganham 250 mil euros e a chefe francesa 500 mil. 

         - Ainda o Público. De notar que a morte de Pelé ocupa a capa e mais sete páginas do jornal, a política (por exemplo, o nojento caso da TAP) duas páginas e o resto do mundo pouco mais. Somos o jornalismo que temos. No mesmo sentido: temos os políticos que merecemos. 

         - Tenho estado atento a perceber o que podemos esperar para 2023. Mas nada de opiniões sérias, prognósticos bem estruturados, previsões credíveis. Do que falam as televisões é... de cuecas. Indicam-nos as cores que devemos usar (quem as usa) e qual a vantagem do preto e do vermelho nos momentos de maior intimidade. Que podemos esperar de um país assim que não se dá conta que, por este andar, só as cuecas (de qualquer cor) lhe cobrirão as miudezas!

         - Da lista dos livros que li ao longo de todo o ano (ver Quarta-feira, 21) que agora finda, realço estes três como aqueles que mais prazer me deram e intimamente me tocaram. 


         - Um excelente ano de 2023 a todos os meus fiéis leitores!