quarta-feira, novembro 30, 2022

Quarta, 30.

Ontem voltámos – João, Virgílio, Carmo Pólvora e eu – ao hospital da CUF. Encontrámos a nossa amiga um pouco mais abatida embora enfrentando a doença com denodo. A Teresa tem um filho, músico, que se ocupa dela quando espectáculos e digressões o permitem. É um homem de grande sensibilidade, a quem recorro quando quero saber pormenores sobre de uma ópera, sinfonia ou música clássica no geral. Na conversa que tive com ela, contou-me que na véspera do acidente, começou a pintar pela primeira vez o seu auto-retrato, “mas não cheguei a assinar”. “Não te preocupes, em breve vais assinar essa tela e tantas outras.” Devolveu-me um olhar terno de agradecimento. 

         - Acabam de sair estatísticas propagandísticas que assinalam uma ligeira baixa dos preços. Eu não acredito em nada. Até porque, não tendo criados, sou eu que me ocupo de ir ao supermercado e aos mercados dos pequenos agricultores aqui da zona. Tenho visto tudo a subir, mas eles dizem que desceram o mês passado. Nestas alturas, vem-me sempre à memória o episódio da irmã do João S., técnica honesta e competente do Instituto Nacional de Estatística, despedida por ter ido a Bruxelas apresentar a realidade que o governo de então não queria que se soubesse.   

         - Encontrei a actriz Ana Bola no Corte Inglês. Juntos andámos a fazer compras, mas a dada altura vejo-a com dois grandes copos de gelados Haagen. Digo-lhe: “Olhe que isso engorda. Pois. Mas é tão bom!” Aconselhei-a então a experimentar o mesmo “tão bom” na versão dos Açores que se vede no Lidl. Olhou-me com aqueles admiráveis grandes olhos azuis e disparou como uma menina bem comportada: “Vou seguir o conselho”. Risada à maneira da excelente actriz que é. 

         - Vladimir Putin, digam o que disserem, é um criminoso. E um criminoso desesperado que sabe já ter perdido a guerra e atira a matar tomado da loucura e do ódio mais primários. Nunca lhe interessaram as regras humanas da guerra, porque as há, sempre atirou indiscriminadamente atacando e matando civis inocentes, destruindo cidades e aldeias. O seu sadismo foi ao ponto de preparar um doloroso e mortífero inverno para os ucranianos, rebentando com centrais eléctricas, reservas de água, escolas e hospitais. Guterres que não aprecio por aí além, saiu-se, todavia, outro dia em Madrid com esta verdade: derrotar a Rússia é também avisar os outros regimes autocráticos do mundo de que a lei do mais forte não pode prevalecer. Pensava, decerto, no ditador da China. 

         - Os governantes que nos governam com toneladas de palavreado, de manhã à noite, 24 sobre 24 horas, estou a pensar em Macron, António Costa, Nicolás Maduro, fingindo e enganando-nos com trabalho árduo que detestam empreender, sobretudo, Marcelo, grande amigo da TV e jornais, fornecendo-lhes “caixas” como se dizia no meu tempo de jornalista, matéria para frontispícios, num país onde não se passa nada à parte a miséria que nos invade. Em doses cavalares de comentários, previsões, estatísticas, pareceres, antevisões, palpites, dichotes sobre futebol, dança, peditórios, saúde, tecnologias, arquitectura, arte, sessões de espiritismo, hipnotismo, artrite reumatoide, flebite, frugalidade, volúpia, automóveis, jardinagem, livros e autores, ufa, Helder, pára que cansas o Sousa, coitadinho...