segunda-feira, novembro 14, 2022

Segunda, 14.

Grande algazarra dos estudantes (alguns) junto às escolas exigindo a saída do ministro da Economia que acusam de não defender o Planeta. Para além da poluição sonora inimiga do ambiente, os contestatários que vestem as últimas modas da indústria poluidora e nada dizem, por exemplo, dos jogos de futebol à noite, nem dos concertos que deixam por onde passam um mar de lixo e destruição, em vez de se manifestarem dentro das instituições de ensino, deviam fazê-lo à porta dos bancos, grandes empresas disto e daquilo, dos Governos que conspurcam a atmosfera com congressos e reuniões inúteis, aceleração para aumento do buraco de ozono, e deveriam ainda abandonar os telemóveis de última geração, tomar duche rápido e não ficar horas a consumir água e energia. etc., etc.. O ministro que eles na sua ignorância querem ver fora do Governo, é um dos dois únicos competentes de todo o governo Costa, o outro é o ministro da Administração Interna. 

         - Sexta-feira almocei no B & B do Carlos, ao Campo Pequeno. Almoço simples, bem regado de conversa amena, desabafos de ambas as partes, com ele eternamente prisioneiro de um mundo que se pressente não se ajustar à sua eterna busca pelo impossível. Valeram as sonoras gargalhadas que não poluem e são descargas de amizade e simpatia. 

         - Luís Pinheiro de Almeida, que aparece abundantemente num dos meus diários publicados, mandou-me o convite para o lançamento do seu livro Viagens no Tempo. Pena que tenha de me deslocar a Viseu o que nesta altura é de todo impossível e talvez nem estarei em Portugal no dia aprazado. A foto com ele morto de cansaço sobre a máquina de escrever, lembra-me o nosso tempo, esse tempo de rampa de lançamento para vidas que entre nós depois divergiram, mas guardo como tesouro de sentimentos nunca serenados... 


         - Escrevo estas linhas à minha mesa de trabalho, diante da janela baixa propositadamente construída pelo arquitecto João Biancard para que eu pudesse descansar o cérebro e a vista na paisagem hoje embrulhada de uma enorme tristeza e silêncio. Há no espaço uma fímbria de luz baça, por onde espreitam as nuvens ameaçadoras; nada bule, tudo se queda em contemplação, nenhum canto de pássaro chega às janelas da casa isolada no fundo de um mundo secreto, sem acessos ao real-irreal, em cujas amarras suspendo o cansaço de me saber palrador aos ventos que passam. (Francisco José Viegas fala disto com maior propriedade e beleza.) 

         - Vou-me despachar para ir ao encontro do Dr. Cambeta.