quinta-feira, novembro 17, 2022

Quinta, 17.

Demos a notícia clara como se fosse redigida por um novato jornalista: Luís Vitorino, autarca de Marvão pelo PSD, é considerado culpado de um crime de corrupção passiva e foi condenado a três anos de prisão com pena suspensa e perda de mandato. Entendi. E depois, senhor principiante? Compreendo que a um jornalista seja vedada a opinião pessoal sobre determinado assunto político. Será assim, ilustre diarista? Claro que não. Hoje o jornalista já não é aquele que dá a notícia, é também aquele que lhe acrescenta a sua cor política, partidária e cobre os interesses do jornal e os seus próprios. Eu que não mando dizer por ninguém o que penso, adiciono a esta notícia uma pergunta que me inquieta neste como em muitos outros casos semelhantes: é suficiente em crimes deste jaez que o corrupto político se fique pela perda de mandato e vá tranquilo para casa gozar aquilo que não lhe pertence ou volte à faculdade ou ao negócio de família, como se fosse o mais puro dos cidadãos? 

          - Antes que me esqueça, deixem-me registar aqui a curiosa exposição que está no segundo andar da Fundação Eugénio de Almeida: Mundo de Aventuras do artista plástico João Fonte Santa. Trata-se de uma série de quadros na forma magistral de banda-desenhada, em contexto underground, que nos faz regressar à infância mas imbuídos da carga crítica de que hoje tanto se fala e pouco se pratica, tiradas das histórias de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens. Ao longo de uma vasta parede, foram alinhados pequenos quadros, no desenho desempenado e solto do artista, que nos conduzem a um mundo onde dormem florestas silenciosas, se ouvem murmúrios de pássaros e se observam rastos de mamutes, numa atmosfera larga, penetrada pela luz que tudo faz crescer e a densidade sobrenatural de paisagens perdidas nos horizontes distantes que o homem tantas vezes destrói. A exposição abre com uns quadros grandes, trabalhados a cor, num traço denso e preciso, que expõe o homem no contexto natural, ele contra quem o artista se revolta por destruir o meio nato onde deveriam coabitar todos os seres vivos.  

         - Para além da tortura Cristiano Ronaldo, sobra nos meios de comunicação, o desentendimento entre António Costa e o ex-governador do Banco de Portugal. Carlos Costa diz que recebeu pressão do primeiro-ministro para proteger a senhorita Isabel dos Santos evitando que ela deixasse o banco BIC, com o pretexto de ser filha do falecido presidente de Angola. Eu não sei quem tem razão, mas sei que atendendo à personalidade de Costa inclino-me a dar razão ao governador. António Costa é homem para isso.