sábado, novembro 26, 2022

Sábado, 26.

Terminou a palhaçada do OE com o voto contra de todos os partidos à excepção dos dois pequerruchos. Grosso modo, se retirarmos as célebres cativações socialistas, o próximo ano vai ser de maravilha, com o país a enriquecer e os portugueses a empobrecer. Mas estamos bem, muito bem mesmo, no entusiasmo de António Costa e do seu sacristão. O problema é a Roménia recém-chegada à UE já nos ter ultrapassado na melhoria do PIB. Estamos como sempre estivemos na cauda da Europa. Orgulhosamente sós.  

         - E não só a esse nível, como na decadência social transposta para o modo como tratamos aqueles que vêm de longe para nos ajudar. Ciclicamente é isto: milhares de imigrantes chegam ao Alentejo e a outras partes do país e são acolhidos como coisa sem mérito nem importância, escravos vindos do fundo de séculos tenebrosos. Pagam para trabalhar, passam fome, vivem em condições degradantes, carpem de vergonha e humilhação, agridem-nos, reduzem-nos a máquinas infernais sem descanso, peças agrícolas oleadas com choro de noites de insónias. As autarquias sabem do crime, os governos centrais conhecem o drama, os patrões condescendem com as transgressões à lei, e ninguém se importa, jogando o jogo do empurra responsabilidades para ficar tudo na mesma. É uma vergonha que nos envergonha a todos e a mim pessoalmente me ofende, me maltrata, me revolta enquanto português que vive num regime democrático e ainda por cima socialista (ou lá o que isso for).    

         - Eu apetecia dizer como o arrogante que ”nunca tenho dúvidas e raramente me engano”. Mas é um facto que acerto muitas vezes simplesmente porque tenho o hábito de olhar com atenção o rosto do outro e, se possível, passar-me para o seu lado. Vem isto a propósito de um homem que contratei pelo telefone para cá vir a casa substituir o vidro da lareira que rachou vá-se-lá-saber-porquê. Na foto do seu telemóvel vejo-o com a mulher (que ele chama esposa) e ambos têm estampada nas caras a honestidade e a bondade. Acresce que ele me disse quando o contactei, que só podia fazer este serviço fora das horas do emprego, o que me deixou à beira do êxtase absoluto. Num país de malandros, de políticos, de desocupados, de bebedores de vinho pelas esplanadas, encontrar alguém como ele é para mim a veneração de joelhos. Não me enganei. Encontrei um rapaz pelos seus trinta e poucos anos, extremamente consciencioso, sem conhecer o modelo do recuperador, se aplicou a estudar a maneira de substituir o que foi partido. Esteve neste exame para cima de uma hora, nunca tendo reparado um aparelho desta marca. Depois, quase a pedir-me desculpa, disse que ia falar com colegas para descobrir como tecnicamente pode reparar o aparelho e me telefonaria mais tarde. “Quanto lhe devo? Não deve nada. Eu vou ver se consigo resolver-lhe o problema e na próxima semana telefono-lhe.” Digam-me: isto é Portugal pós-25 de Abril? Não é. Mais: somos no rosto o que escondemos no coração. João Corregedor a quem eu ontem ao telefone falei do técnico e de como o havia contratado, advertiu-me: “Vê lá quem metes em casa!” Na realidade entrou esta manhã aqui um ser perfeito, um anjo de alguém modo. Tenho absoluta necessidade de conhecer e conviver com gente deste quilate. 

         - É curiosa a foto-montagem que tirei do blogue de Rentes de Carvalho e ilustra às mil maravilhas a lastimosa carneirada em que o país se tornou.