domingo, novembro 13, 2022

Domingo, 13.

Afastado deste registo devido a uma série de compromissos a que houve de acudir. Os dias passam à velocidade das sombras que dardejam e pauteiam o ritmo dos vivos no seu lento-apressado caminho para o destino final. Debaixo deste céu que nos honrou com lampejos de auroras e brilhos de folguedos, prosseguem os horrores que cobrem do negro das viúvas e viúvos, as cidades inventadas à dimensão humana, onde a miséria e a humilhação abrem abismos de desgraçadas e revoltas. Não sabemos porque nascemos aqui, neste lugar distante, sob este sol crepitante de luz, que imprime aos dias uma quietação de felicidade escondida nas dobras das horas. Dir-me-ão que foi porque os nossos pais e avós aqui chegaram vindos de um lugar para lá dos séculos, sem tempo nem espaço. A pergunta, todavia, fica sem resposta. Ou antes a nossa inteligência, a nossa argúcia de tudo conhecer, descobrir, traçar a esquadro não vai além do que temos diante dos nossos olhos míopes. De súbito, tudo o que desbravamos circunscreve-se ao elementar, ao quotidiano, fica travado pelo instinto primário que nos leva desta vida a outra que nenhum sábio, filosofia ou religião nos consegue fornecer a chave do mistério, que não nos larga e nos cerca do infinito espanto que é a vida, a nossa e a de todos os seres acolhidos debaixo do firmamento - manto de união acessível à família humana. Pessoa, dizia: “Come chocolates pequena come, olha que não há mais metafísica no mundo filosofia senão chocolates.” 

         - Este intróito, chegou assim que abri o computador, como se aguardasse nas margens do meu cérebro a oportunidade de se transudar nesta página. E vem agarrado à minha eterna desconformidade com o país actual, os governantes, a pobreza mental, social e cívica, substrato da mentalidade egoísta, galvanizadora de princípios mesquinhos, ambições, ganâncias, típicas das sociedades pobres, atrasadas, sem conduta moral, montadas em coisinhas elementares, sem bases nem horizontes, satisfeita com os pequenos nadas da existência rasteira, fechada dentro da fé patriótica, temente aos que a governam, governando-se sob estratégias e conluios pessoais e partidários. Querem a prova do que acabo de dizer? Revejam o início do jornal da 20 horas na SIC, sexta-feira, dia 11.  

         - Foi, portanto, uma vitória moral importante para os ucranianos a tomada de Kherson. Tem, contudo, um ligeiro amargo por não ter sido conquistada, mas sim abandonada pelo ocupante. Estou com o Presidente Zelensky que desconfia da retirada russa. 

         - Ao lado do que se passa na Ucrânia, a nossa vidinha airada não é mais que um simples fait divers. Que até seria divertido, não se dera o caso de ser trágica e humilhante para nós e para a nossa jovem democracia. O homem estimado de António Costa, desistiu do cargo que o seu protector lhe oferecera. Andou um mês nas bocas do mundo consumpto de honestidade da oposição, mergulhado em contradições, os 300 mil euros dados de mão beijada a um homem de almanaque, doutor e empresário de mais de 50 empresas falidas, personagem romanesca, naturalmente do Norte que é de onde chegam estas abencerragens adoradas pelo PS, até que foi acusado pelo que de errado fez, não só no caso da Câmara de Caminha como de outros que entretanto chegaram à ribalta. Nem a defesa do famigerado homem de mão que dá pelo pomposo nome de Ascenso Simões e tem na cara estampada o que esconde de sabujo, lhe valeu. Toda a gente diz: o Governo de Costa dissolve-se na praça pública. Já entrou nestes dois dias para o rol dos transgressores, outra personagem do PS, presidente da Câmara de Matosinhos, arguida da Operação Teia. Por muito menos, se demitiu Guterres com a célebre frase:  “se nada fizesse o país cairia inevitavelmente num pântano político». É no que ele está hoje. 

         - Comecei a cortar a erva daninha que cresceu por toda a parte. Fiz uma tarte de medronhos. Terminei o extraordinário romance de Francisco José Viegas, Malancholia. Não choveu. Tempo entre cinza e intermitentes raios de sol. Silêncio profundo, agarrado à terra. Silêncio.