quarta-feira, novembro 23, 2022

Quarta, 23.

Comecei a estranhar, pensei até que vivia noutro país, num país de governantes sérios votados desinteressadamente à causa pública, porque há pelo menos três dias não se ouvia falar de corrupção e toda a merda que a envolve. Pura ilusão, sonho impossível. Helder, Helder mantém-te de olho na realidade, não divagues, não entres na fantasia. Eis se não quando, aí está mais uma borracha ocorrida na Câmara de Arouca, PS, pois claro, ligada ao ex-secretário de Estado da Protecção Civil, senhor José Artur Neves e com a cumplicidade da actual presidente, Margarida Belém, ambos acusados pelo MP de falsificação de documento, prevaricação de titular de cargo político, relacionado com a contratação e realização de obras públicas no tempo em que o primeiro era presidente da edilidade e a segunda viria a ser sua sucessora. Que marmelada, hei!    

         - Que país é este que vive pendurado do destino de um jogador e das opiniões mastigadas de outros, que surgem de carpetes chinesas estampadas no corpo, muito sabichões e convencidos de serem as sumidades mais importantes de entre os dez outros milhões de habitantes que o habitam? 

         - Marcelo, qual canguru sempre aos saltos, já embarcou num avião privado (segundo a RTP1) para o Qatar. Pergunta-se porque nos chagam a toda a hora com o Planeta, o buraco do ozono e outras parlapatices do género, quando o futebol é mais importante que os direitos humanos; a escravidão dos infelizes; os hospitais sem estruturas, medicamentos e médicos num estado comatoso; o ensino catastrófico; dois milhões e meio de pobres; o analfabetismo a crescer; a vida a ficar à beira do pântano social; os reformados a vegetar; o custo de vida a aumentar e a condenar milhões de portugueses à condição de pedintes; a energia a ficar inacessível; a condenação dos automobilistas a deslocarem-se em trotinetas; a miséria a expandir-se reduzindo todas as estruturas sociais ao mínimo a tombar para a indigência; a juventude sem perspectivas; o tecido social a degradar-se encoberto pelas alegrias efémeras dos golos marcados pelos “nossos embaixadores” no dizer do mágico das palavras, Marcelo Rebelo de Sousa. Pode-se levar esta gente a sério? Teremos nós de viver arrastando os dias para eles crescerem em importância e soberba? É isto um país de futuro, com futuro? Seguramente que não.  

         - Costuma-se dizer que uma foto vale por mil palavras. A mim dá-me para a usar com uma pergunta simples e directa: onde está a economia, a redução de consumos energéticos que nos obrigam a fazer? Pura hipocrisia. Os negócios e o dinheiro estão acima das necessidades imperiosas de proteger as populações e o Planeta. 

         - Vou-me arrastando na leitura do diário de Arthur Schnitzler, um escritor que marcou lugar na cultura entre as duas Grandes Guerras e acabou por se suicidar. É dele esta frase que por si só nos leva a pensar: “On ne vit vraiment qu´une chose, vieillir. Tout le reste, ce ne sont que des aventures.”