terça-feira, novembro 15, 2022

Terça, 15.

Atentado na rua principal de Istambul que eu por diversas percorri a pé, fez seis mortos e dezenas de feridos. A polícia atribui o acto bárbaro ao PKK e o Governo aceitou condolências de vários países menos dos EUA, por entender que ele apoia facções do mesmo grupo. 

         - Não sou eu que o digo, foi a TVi e, portanto, vale o que vale: António Costa, quando foi presidente da autarquia de Lisboa, fez três ajustes directos a Miguel Alves no mesmo dia por 80 mil euros!!! Assim sendo, explica-se o convite do primeiro-ministro ao autarca de Caminha para seu adjunto. La bouche est bloqué. 

         - Euforia porque o mundo chegou hoje aos 8 mil milhões de humanos. Os cientistas são mais pragmáticos e afirmam que o problema não está no excesso de população, mas no de consumo. Absolutamente de acordo. Que a massa petinga das meninas que barafustam contra o ministro António Costa Silva, sigam nas suas vidas, este aviso.  

         - Se o ex-regulador da energia, senhor Vítor Santos, diz que “permitir o regresso à tarifa regulada do gás (e suponho da energia) foi uma boa decisão”, pergunta-se por que motivo e com que interesses foi criada a opção contrária do liberalizado. Somos um país Maria faz como as outras, e “o nosso povo”, sempre no encalce do mais barato, segue-lhe o rasto. Depois chora no molhado.

         - Chama-se Topomorphias a exposição de Jorge Martins patente na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora. Passei uma hora cheia a percorrer o primeiro andar do velho edifício do século XVI, recuperado para acolher actividades artísticas e culturais, em particular arte contemporânea. A primeira impressão que temos, como bofetada em pleno rosto, é a harmonia do conjunto, apesar de os trabalhos expostos terem sido concebidos entre 2010 e 2021 e em grande maioria no período sinistro da Covid, 2020. Se a isto juntarmos a idade do artista, nascido em 1940, temos o retrato de um jovem que não se encontrou com os anos, permanecendo com a curiosidade e o espírito aberto ao desassossego que impregna toda a vida empenhadamente vivida. A amostra é disso exemplo: uma continuidade na descontinuidade, uma aventura descomplexada que traz a arte para os circuitos, os percursos tangentes a uma certa magia, a um olhar para lá da tela, numa representação gráfica que nos faz voar além do que o artista nos quer mostrar. Somos, pura e simplesmente, apanhados na armadilha que o espaço da tela nos propõe, na frescura que ali se retém, nos paralisa ante a viagem como representação de terrenos artísticos numa simbiose real-irreal, de que certas transparências são exemplo. A modernidade, do meu modesto ponto de vista, advém da reflexão permanente de Jorge Martins ante o pensamento analítico, a busca obsessiva pelos parâmetros da arte, intelectuais ou metafísicos, na urgência de trazer para a tela o instante, a magia do acontecimento vadio que subjaz em formas e cores combinadas com um interior riquíssimo de objectivações díspares. Como se cada tela tivesse memória, fosse memória, do passado e do presente, apontamento de viagem que nunca chega ao destino, desenho de conformações e conceitos, que só um grande artista sabe exprimir. 

Jardim na China - 2010

Sem título - 2020

Flying Discover - 2010 

Fantasia Cromática - 2010

         - Almocei na Confeitaria Nacional. À saída pedi para me embrulharem meia dúzia de Austríacos, um doce com pouco açúcar e um sabor intenso a coisas indefinidas. De seguida, parti. À chegada ao metro, dou conta que havia deixado a caixa dos ditos cujos, sobre o balcão da pastelaria. Volto para trás e ao entrar a funcionária diz-me: “O meu colega ainda foi atrás de si, mas você caminha tão depressa! É verdade. Sou o coxinho coitadinho mais rápido de Lisboa.” Uníssona e estrondosa gargalhada de clientes e pessoal.