segunda-feira, novembro 28, 2022

Segunda, 28.

De um lado temos os casos dos direitos humanos, da escravidão, do fanatismo para mim incompreensível do futebol e por outro, à posteriori, as cenas canalhas da barbárie pouco respeitadora do verdadeiro espírito desportivo que, para o que aqui me traz, há muito deixou o desporto enquanto mandamento de disciplina, prazer, equilíbrio de saúde mental e física. Como no caso ontem dos boçais que em pleno centro de Bruxelas, viraram carros, usaram material pirotécnico, empunharam paus, provocaram incêndios, investiram sobre a polícia, feriram um jornalista, e deixaram ruas e praças num estado de destruição inadmissível. Tudo isto, pasme-se, porque a Bélgica perdeu 2 a zero com Marrocos!!  

Foto Público online

         - Os protestos transformados em revolta vão até à exigência de demissão do imperador Chinês, propagando-se pelas importantes cidades da China. Exigem o afastamento de Xi Jinping ping ping, recentemente entronizado, a suspensão do confinamento e aquela ideia absurda do ditador de obter covid zero ali conjecturada a gás lacrimogénio e a bastão policial.  Nunca se viu uma tal oposição, provando que o povo quando unido pela liberdade, consegue depor o mais desumano tirano.  

         - Longa conversa com o João Biancard sobre o período em que assumiu o projecto Frente Tejo, sucedendo ao inefável José Miguel Júdice e era primeiro-ministro o salteador do cofre do Estado, José Sócrates e presidente da Câmara de Lisboa, António Costa. Bizarro duo! Durou poucos anos no cargo tendo apresentado a demissão por não suportar mais os esquemas pessoais e políticos das duas personagens. Deixou a função com sete milhões de euros, as contas certas, a casa arrumada e só aceitou a medalha de honra da cidade que lhe foi atribuída pelo ex-autarca por educação, para logo a arrumar em parte incerta numa divisão da sua vasta casa. Somos amigos há muitos muitos anos e sou testemunha da sua grande honestidade moral e cívica. Tenho aqui vastas vezes contado episódios da sua personalidade e daquele seu hábito desprendido que o levara a optar no estrangeiro por hotéis modestos, economizando somas chorudas habitualmente gastas nas deslocações oficiais de representação do Estado português. 

         - Almocei em casa da tia Júlia recuperada da operação à anca. Belo encontro com a presença do filho, nora e neta estudante de psicologia com quem me divirto sempre caçoando do curso. Faltou o Gonçalo por ter chegado na véspera da Dinamarca, aonde fora no aperfeiçoamento do conhecimento das neurociências enviado pelo hospital onde trabalha. Grande divertimento, risada em quadruplicada, festa entre nós. Não sou pessoa de família, naquela tradição gregária e sectária, mas estou à vontade entre os meus – o que se come é-me completamente indiferente. Mas comeu-se bem, ao ponto de tia Júlia insistir para que trouxesse ração para mais duas refeições. 

         - Terminei o Diário de Arthur Schnitzler. Em verdade a coisa é uma abundante soma de linhas, em estenografia, nomes de pessoas, cidades, lugares apresentadas pelas iniciais, obrigando o leitor a um esforço suplementar de conferir a informação no fim do livro, longas recitações dos sonhos do escritor que eu detesto, mas compreendo tendo sido ele médico ligado à psicologia e psicanálise, arrelias com a mulher Olga de quem se separou, discussões acesas sobre dinheiros e suas aplicações, rápidas linhas assinalando encontros com Freud, Alma Mahler, Thomas Mann, Stefan Zweig, envolvimentos com mulheres, etc. Só não sei como faleceu, tendo eu lido em qualquer lado ter sido por suicídio. Comecei a ler as cartas que o médico-escritor escreveu a várias personalidades.    

         - Imediatamente a seguir ao almoço, fui roçar erva em frente à casa continuando o que havia começado há duas semanas e fora suspendido devido à chuva abençoada. Foi hora e meia e depois fiz duas queimadas. Tenho imenso trabalho, mas não quero pensar nisso. Vou fazendo como posso e quando posso.  De resto a labuta nunca me assustou.