sexta-feira, novembro 25, 2022

Sexta, 25.

Eu tenho o salutar hábito de reler estes textos (e os do romance em elaboração), no dia seguinte à sua concepção. Conheço-me suficiente bem, sei como sou cercado pela ansiedade, o nervosismo que me tolha os sentidos ao sentar-me todas as manhãs diante do computador. Nem sempre tomo um calmante. Como ontem ao abalançar-me a escrever sobre o último romance de Francisco José Viegas - pelo que sei muito apreciado. Pois é, mas no melhor pano cai a nódoa. Não sei por que carga de água, chamei Olga à nova inspectora que substituiu o nosso terno Jaime Ramos; em vez de usar o nome criado pelo autor do livro, Olívia. Já foi corrigido. E as minhas desculpas à desenvolta personagem que continuará na sombra o trabalho daquele que, contrariado, entrou na reforma... Desejo não seja o caso do seu criador. Longos anos de escrita luminosa e fresca, bela e profunda, como aquela que nos apetece estreitar nos braços. Literalmente. Para os meus leitores que com frequência me acusam de não apreciar nada ou ser demasiado crítico, aí têm este desmedido louvor quando a arte, a verdadeira, se cruza no meu caminho. Francisco José Viegas não conta histórias de embalar nem merdelhices para senhoras desocupadas. É um Escritor. Ponto final. E acrescento para que fique claro, embora nos tenhamos cruzado noutros tempos em alguma redacção de jornal, não o conheço na intimidade. 

         - Renovo-me interiormente de cada vez que vejo a revolta instalar-se nos corações daqueles que vivem amachucados, sem voz, humildemente diante dos senhores todos poderosos que os têm como escravos obedientes e submissos. É o caso de milhões e milhões de chineses, sob a ditadura de um homem protegido por militares. Cidades inteiras estão obrigadas a ficar de novo em confinamento, não obstante as poucas mortes por covid, só porque o despotismo de um só homem o impõe. Confrontos nada habituais na China aconteceram entre as forças militares, a população e os médicos. Ninguém consegue deter a fúria da razão que quer impor a liberdade e o direito de continuar a ganhar o pão de cada dia. Xi Jinping ping ping, cospe para o lado. Até quando? 

         - O mesmo se passa no Irão onde já faleceram para cima de 400 jovens às ordens da polícia desumana que protege a ditadura religiosa do insensato Khomeini e em memória da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, morta em Setembro por usar o lenço islâmico na cabeça deixando à mostra uns quantos cabelos. O Conselho dos Direitos Humanos da ONU, aprovou um inquérito para pôr fim à “violência brutal e tirania de Estado” iraniano. Curvo-me diante da coragem estudantil que desde então não abranda a luta pela liberdade e os direitos humanos, num país que vive num inferno vegetativo, sem horizontes, nem futuro. 

         - Na Indonésia, um forte sismo, fez 272 mortos e muitos milhares de feridos. Imagens pungentes chegam até nós sem que nada possamos fazer para acudir aos infelizes. 

         - Não gostei do tom presunçoso, do quero posso e mando, de Santos Silva dirigindo-se ao polícia encarregado de abrir as bancadas da Assembleia ao público. Está ali o retrato preciso da maioria socialista. A lição veio depois: as portas não foram abertas porque não havia um único cidadão do “bom povo” interessado em assistir à sessão parlamentar. Toma e embrulha.