domingo, outubro 31, 2021

Domingo, 31.

Tomei café no apartamento de Francis com vista para o canal esta manhã. Longa conversa sobre Napoleão III e a aversão que os socialistas têm ainda hoje ao grande imperador. Grosso modo, estive de acordo com ele no que diz respeito a Vítor Hugo que o danificou sem levar em conta tudo o que o grande homem fez pela França, muito das reformas sociais e progresso ainda hoje servem à sociedade francesa. Quando regressar de Quiberon, daqui a três semanas, voltaremos a estar juntos para almoçar e irmos à Comédie Française.  

         - Ao ouvir os franceses falar o inglês, ocorre-me aquela que julgo ser de Clemenceau: “O inglês é o francês mal falado.” Ou será que o francês é o inglês mal falado? 

         - Para escapar ao encontro com o Christian e Carole, meti-me no autocarro para ir passear sob chuva pelo bairro do Marais. Quando cheguei ao metro, dou-me conta que não tinha comigo a carteira. Toca de voltar para trás e conformar-me com o destino. Os meus amigos são contra as vacinas, já foram contaminados e estiveram num estado miserável. Apesar de me proteger, corro constantemente riscos. Mesmo em casa, Hugues, filho da Annie, não quer vacinar-se e constitui um perigo para a mãe já num estado extremamente frágil.  

         - Chegado à página 55 do journal de Green, tendo acompanhado os desaires dos dias do escritor que se refugiou em Baltimore para fugir à 2ª Grande Guerra, dias em que ele tenta equilibrar-se entre as necessidades sexuais e a palavra do Evangelho, le voilà (pág. 53) de retorno ao Green dos anos 20 a 40: “Fort troublé par un visage, hier soir. Le jeune orangé de la peau répondu d´une façon égale sur le front, les joues, les oreilles et le cou; les plis du cou à chaque movement de la tête, l´oeil plissé par un sorrire sensuel, un air de cruauté des plus agréables, la plenitude de la nuque, enfin j´ai senti le désir me prende aux entrailles, et j´ai éprouvé la mélancolie d´autrefois, et dont je me croyais débarrasssé.”