terça-feira, outubro 12, 2021

Terça, 12.

Nunca suportei nenhuma espécie de agressão física ou psicológica e com a idade refinei de revolta e atenção a casos que se vão vulgarizando ao ponto de se tornarem naturais. Assim o que se passa com a nova onda de migrantes que aportam a Inglaterra via França, Croácia, Roménia, Grécia entre outros países. O que as imagens da TV nos mostram – sempre com aquele aviso hipócrita que previne os espectadores contra o horror que vai ver, mas que as cadeias de televisão sabem ser aquilo que vende – é a vergonha de uma Europa que nunca conseguiu concertar estratégias para diminuir o sofrimento daqueles que fogem da fome e da miséria, da guerra e dos déspotas. Causa dor ver os rostos de jovens cansados e em pavor, face à polícia bem nutrida e armada, depois de terem vencido a morte nos túmulos flutuantes que os trazem à fronteira da sorte ou seja de uma vida melhor. A arrogância dos países ricos, que alimentam com as suas políticas a xenofobia e o racismo, é cada vez mais insuportável. Os jovens que andam a endeusar por moda a menina Greta Thunberg, deviam voltar-se para esta tragédia humana e obrigar os governos a entenderem-se para que o ser humano seja respeitado em plena igualdade quer seja africano, árabe, indiano ou cigano.  

         - Para mim a homossexualidade dentro dos seminários e colégios religiosos, não é surpresa nenhuma. Se virmos bem, viver num harém de corpos frescos e em pleno desassossego sensual, irmanados num mesmo doce enleio, onde nada está ainda decidido na disposição do corpo ávido, que solicita o possível e o impossível, num avio de solicitações naturais que não podem esperar; muita dessa desordem dos sentidos que urgia satisfazer era saciada. Talvez a identificação da Liberdade, do seu conhecimento e importância, tenha a sua génese na insurreição da mente e do corpo em transformação. Nessas idades a moral não conta para nada, porque o que está em jogo tem mais importância que o facto de Deus permitir ou não, isto é, a urgência da conclusão da descoberta leva a palma sobre todos os tratados, proibições, escolhas futuras e pecados. Essa salada de convenções fica à margem daquilo que é o essencial – a descoberta do corpo com todas as variantes sexuais disponíveis para que nos ajustemos à nossa identidade. 

Vem isto a propósito de a Igreja portuguesa, na linha ou contra o que pensa a Papa Francisco, ter admitido a investigação de casos de pedofilia “desde que não seja limitada ao clero”. E tem razão. Era aqui que eu queria chegar neste meu reflectir sem descanso: ou seja a violência, a pressão psicológica sobre adolescentes crentes que foram usados por sacerdotes obsessivos e decerto produziram nas vítimas traumas que perduram pela vida fora, devem ser investigados e resolvidos nos tribunais. A mim o que me fere é a violência, é forçar alguém a fazer aquilo que não está nos seus desígnios. Vamos ser mais claros: é uma afronta à liberdade individual e ao amor. Porque este requer união, subtileza, solidariedade, doçura, partilha. A doutrina da Igreja só aceita o acto sexual se for praticado com amor. Eu ignoro se ela está cómoda com o amor praticado e vivido por duas mulheres ou dois homens, estou em crer que não. Mas, hoje, pelos factos presentes que só à Humanidade dizem respeito, a evolução natural é que caminhemos todos para a felicidade. Rasgados os objectivos marxistas da proibição da individualidade de cada um em favor da colectiva, é, todavia, naquele campo largo que a luta pela liberdade tem de ser exercida. Só somos livres e colectivos quando exercermos o direito a sermos Um e neste caber todos os outros seres humanos. 

Dito isto, voltando à hipótese da hierarquia religiosa com a qual, como disse, estou em sintonia, cabe dizer que não há adolescentes e crianças mais abusadas por padres que por senhores endinheirados a troco de uns tostões servem-se delas e as deixam na beira da estrada de seguida. Aqui quem está em situação é a criança, o adolescente  e não o seu criminoso abusador. Conhecemos alguns julgamentos que se arrastaram nos tribunais envolvendo figuras conhecidas, algumas das quais mesmo depois de terem sido condenadas, continuam a dizer-se inocentes. Talvez até tenham razão, atendendo ao estado da Justiça no nosso pobre país. E ao que me consta, apesar de tanto alarido e bênçãos despejadas sobre as vítimas, o carrossel de carros nas imediações das instituições que deviam proteger os rapazes à sua guarda, continua se é que alguma vez paralisou...  

         - Pois que falo de Justiça, aqui vai - é dos sectores mais desacreditados. Eu se governasse, mandava fechar todos os tribunais, convocaria o Parlamento para a criação de novo Código Civil, reestruturaria o Ministério Público, as leis, as estruturas de funcionamento do organigrama judicial, etc., etc.. Na praça pública são muitos os que, sentindo-se injustiçados reclamam razões, inocências, humilhações. Veja-se o caso Armando Vara. Esteve preso não sei quanto tempo por ter sido acusado de vários ilícitos; hoje foi solto e traz a bênção da inocência. Dá para entender? Como é que ontem era criminoso e agora é cidadão exemplar?  

         - Tempo de verão autêntico, quase canícula. Vou gozando em braçadas potentes a água que não aquece apesar da temperatura estival. Adoro o choque térmico quando me faço à natação. A Carmo que me falou, perguntou-me como estava a água, respondi: “Gélida” e ela: “Deus me livre!”